quinta-feira, 17 de maio de 2012

A etapa.


Já tinha vivido muitas. Assim como todas as milhares de pessoas que hoje andam e se arrastam por aí. Durante essa difícil semana tudo que eu fiz foi escrever. Mas agora eu entendia que tinha que parar de mentir. Mentir sobre a dor, sobre a falta. Parar de cantarolar sobre amores em todas as linhas. Desta vez eu estava limpa. Sem álcool pra esquecer, sem cigarros pra disfarçar e medicamentos fortes pra dormir. 
Foi exatamente lá onde tudo começou e terminou. Fiquei deitada sobre aquele assoalho frio durando 7 dias e 7 noites. Eu sentia cada osso da minha coluna congelar. Sentia meus dedos tremerem e segundos depois tudo aquilo virava pó. E era como se eu não existisse.
Eu não conseguia gritar. Minhas lágrimas não caiam e a euforia pairava pouco a pouco naquele ar frio e seco. Eu não sentia mais nada. Não sentia o sorriso me atormentando. Não sentia o eco dos gritos da rua. Eu fiquei ali deitada feito um defunto. Não pisquei, não ouvi as batidas do meu coração. Não senti o sangue pulsando nas mais minúsculas veias á baixo de minha pele. Eu insisti. Quebrei minhas regras e esperei. Ansiosamente cada segundo que se passava. Eu esperei todas as vezes que o sinal batia. Meus olhos procuravam, mas nunca encontraram nada satisfatório. Era como cavalgar. Meu corpo estava lá, mas minha mente não. O vento tocava forte o meu rosto, arrancando meus cabelos de perto do corpo. Tudo ao lado parecia borrado e correndo. Eu não sentia, não ouvia, não movia. Sentei-me cansada, calada, exausta, melancólica. Triste, rancorosa. Eu sabia que meu coração não estava partido e que eu não iria sangrar até a morte. Era como se uma partezinha do meu cérebro só estivesse me lembrando como era aquela dor. – A dor da perda. Mas nunca é tarde demais e não tinha sido. Não era tarde demais para esperar. Não era tarde demais para se arrepender. Não era tarde demais para sentir tudo ou sentir nada. Não era tarde demais para começar, recomeçar, remar. Eu respirava em baixo da água e observava o silêncio dos peixes. Eu era o silêncio gritando em mim. Nunca foi tarde demais para reconhecer, se perdoar. Essa tinha sido uma das etapas mais difíceis que eu já havia passado. Eu estava enfim, sofrendo por amor. Colhendo o que plantei. Mas agora eu não sentia nada. Nem os tímpanos, nem as ondas, nem os pássaros. Era tudo muito barulhento naquele silêncio dentro de mim. Eu estive durante horas sentada naquele banco olhando pra lugar algum, querendo coisa nenhuma. Pensando no vazio da minha mente. Eu era um pouco atordoada e tranqüila. Foi assim que eu me senti. Chorosa, doente, ausente de mim. Criança, burra. Flutuando. Foi assim que eu me senti. Forte, fraca, sem sentido. Nunca era tarde demais pra saber amar e nem pra desaprender. Não era dor, não era silêncio e nem falas demais. Não era um coração partido, ou milhões de lagrimas sobre a cama. Era uma etapa. Uma etapa de 7 dias e 7 noites muito doloridas que agora já tinha feito de mim, outra pessoa. O nada se tornou tudo, onde o tudo sempre tinha sido o nada. Foi aí que eu parei de ver e comecei a enxergar. Cresci.

- Levantei, peguei meu casaco e fui então, voltar pra vida.  E voltei. 

terça-feira, 15 de maio de 2012

Triste (t.b)


Ficar triste é sempre pela primeira vez. Já fiquei triste tantas vezes, mas nunca assim. Porque o “assim” de ficar triste é sempre pela primeira vez. Já fiquei mais triste do que estou agora, mas nunca tão triste. Porque o “tão” de ficar triste, quando é tristeza mesmo, é sempre arrebatador e assustador e é pela primeira vez. É sempre com o peito virgem e assustado e infantil que ficamos tristes. É sempre com cinco anos, com fome, nus, gelados, segundos antes de morrer de falta de sentido por ter nascido.
A tristeza é uma criança de rua com uma faca apontada pra falta de amor que o mundo ofereceu pra ela. Uma meleca no nariz que nenhuma mãe limpou se transformando nos olhos de um adulto assassino. A tristeza é um pedaço de vidro numa mãozinha pequena. A tristeza é um anjo que não arrumava ninguém pra poder agir como um anjo e foi ficando bem diabólico. A tristeza é ter que comer um risoto caro, com amigos felizes, quando só se quer vomitar no banheiro de casa, sozinha. E triste.
Eu quero vomitar tudo. A água, a saliva, a língua, o seco da garganta, a amígdala, o apartamento de milhões de metros quadrados vazios que virou o meu peito. Quero vomitar minha pele, meus olhos, meu fígado, meus horários, minhas listas de vontades. Eu quero tudo fora, tudo fora. Eu quero eu fora. Eu quero ir pra fora de onde está tão devastado e de onde eu tinha pintado tudo de azul pra te ver sentado bem no centro. No centro do meu peito, você, com a luz azul da minha esperança.
A tristeza me fez um milhão de vidas essa semana. Um milhão de almoços e jantares e projetos. Eu sorrindo, implorando às distrações que me levem, que façam remendos em meu peito perfurado pela violência do ar que não assovia mais os seus sons.
A tristeza me fez cortar o cabelo e pintar de loiro. E me fez aumentar os pesos do pilates. E me fez prometer alguma sedução para alguém que jamais receberá nada de mim. Não existe nada mais triste do que essas coisas de dar a volta por cima e essas coisas de tocar o barco e essas coisas de sacudir a poeira e essas coisas medonhas que a gente fala ou pensa ou ouve. A tristeza são frases vazias e feitas e tediosas saindo de bocas vazias e feitas e tediosas.
A tristeza me fez repartir o calmante no meio. Tomar um. E tomar o outro. Porque nem calmante eu to suportando ver pela metade. Que pelo menos no limbo da minha mente triste alguma coisa possa viver inteiramente.
A tristeza é uma parede, uma geladeira, um computador, um telefone, uma televisão, uma cama, um elevador, um carro. A tristeza são as ruas, os jornaleiros, as pessoas gordas atravessando, as pessoas magras atravessando. A tristeza é o cinza, o vermelho, o azul, o transparente. A tristeza é a próxima música, a próxima seta pra direita, a próxima seta pra esquerda. A tristeza é o ar que sai e o ar que entra. A tristeza é o segundo de ar que se perde e fica mais um tempo. A tristeza é dizer que são cinco dias, são seis dias, são sete dias. A tristeza é a nossa última vez juntos fazendo quinze dias, dezesseis dias, dezessete dias. A tristeza é o amor ter acabado sem ter acabado. É não saber o que é amor e não saber o que é acabar e não saber o que é não acabar. A tristeza só sabe que é triste e todo o resto ela só tenta saber, mas fica louca e desiste. A tristeza é de uma simplicidade que a torna ainda mais triste.
A tristeza é qualquer posição sentada ou em pé ou deitada. A tristeza é deitar e levantar. Tentar ou desistir carregam a mesma tristeza das coisas que não existem. Minha pele toca no pano, na água, na tela, uma mão toca na outra. Todos os toques são tristes. Todas as posições são tristes. Amanhã será triste, ontem foi triste. Hoje é o dia mais triste do mundo.
É porque eu tenho medo de dirigir até o Morumbi no escuro? É porque eu uso pijama feio pra dormir? É porque eu sou egoísta e louca e tenho um dente torto? É porque eu ria de você e ria das suas coisas e ria das suas músicas e ria de nervoso porque eu gostava tanto de você que odiava você? É porque eu criei sete mil muros pra receber alguém mas queria esmurrar até sangrar o seu único muro como se você também não fosse humano? Ou é só porque é assim mesmo? Assim: finito, simples e triste demais.
Hoje elegi o mais triste de tudo. É o banquinho que guardava a sua bolsa de carteiro e que não guarda mais nada. Ele agora é só o que era mesmo pra ser: um banquinho. Limpo, solitário, imponente, em sua nobre função de banquinho.
Sua triste, desgraçada, branca, idiota e livre função de banquinho. 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Eu nunca soube amar. E nunca soube sofrer.


Suas amigas estavam sempre tão certas. Champagne de um lado, brilhos do outro e você no meio. Eu não poderia invadir, muito menos me calar. Você não enxergava as coisas por ter olhos tão bonitos e sinceros. Eu não queria bagunçar tudo. Mas as coisas foram pro espaço, junto com você e tudo aquilo que a gente sentia. Não consigo mais ir nos lugares que a gente ia. Não consigo mais ver gente e lembrar daquele sorriso que me matava. Tentamos de todas as maneiras lutar por alguma coisa e morremos na praia, como todos os outros. Sangrávamos todos os dias sobre o outro e ainda assim ninguém fugia. Nunca me faltou coragem de dizer adeus. E agora eu mal conseguia abrir os olhos. Minha garganta havia se trancado por saber que a coisa certa a se fazer era o que nos arrastava pelo asfalto e arrancava pedaços. Foi assim que a gente seguiu depois de tudo. Eu nunca soube amar. E agora eu também não sabia sofrer. A única certeza que eu tinha é que eu precisava matar alguma coisa dentro de mim. E eu procurei aconchego nas noites. Procurei aquele sorriso e aquele perfume, nos galãs que estavam dançando. Procurei remédio dentro de copos tão cheios quanto minhas mágoas. O universo mais uma vez balançou forte e nos derrubou. Dessa vez fomos longe demais. Estávamos perdidos por escutar os outros. Você escutava dali e eu daqui. Fomos fracos e nem tentamos. Era mais fácil desistir do que se doer mais uma vez. Era mais fácil largar tudo na estrada, do que construir um futuro incerto. Você não me arrancou tudo. Porque sabia que eu iria continuar aqui, esperando você voltar mais essa noite pra gente brincar de ser feliz. Pra gente brincar que amanhã as coisas vão ser melhores. Mas agora eu estou indo embora, deixo-te tudo o que de mim conseguiu. O que eu tinha não era muito, mas era seu. E eu deixo-te tudo em mãos. Toda a minha maldade e todo o meu amor. Todas as vezes que gritei e todas as vezes que não disse o que eu sentia. Deixo-te toda a minha frieza e todo o calor do meu peito. Andamos certo por linhas tortas. E agora tudo esta tão claro. Estou enfim indo ser, quem eu sempre quis ser. Me sinto quente e aconchegante. Me sinto até doce e cheia de vontade de fazer alguém sorrir. Esse desastre me ensinou a ser quem eu tinha esquecido que fui um dia. Estou mesmo melhor, cantando alto e livre pra mais do que me encontrar, encontrar você. Que assim como eu, deve estar perdido por entre esses tantos caminhos e voltas que o mundo tem. Nunca mais fazer por alguém, só por você mesmo. Esse seria o meu lema. Tínhamos se perdido um do outro. E sabíamos que nunca mais iríamos nos encontrar. Eu escutei a nossa musica, escutei a minha musica. Eu escrevi uma carta. Eu joguei fora as fotografias e risquei o seu nome. As coisas tinham mudado, a gente melhorado e o tempo estava correndo. Finalmente eu poderia começar de novo. Agora com amadurecimento e muito amor em meu peito. Me olhei no espelho. Li que ia passar. Me apaixonei pela vida. E vi que deveria me afastar das boas intenções que as pessoas más tinham sobre mim. Agora tudo o que eu vejo é o sol brilhando em meu rosto e uma outra vida. Vida essa depois de você. Depois do teu cheiro e das lembranças que ainda me atormentam em alguns domingos. Andava de batom vermelho pelos bares na sexta-feira á noite. Mas agora eu não precisava mais te matar ou me preocupar com os galãs. Agora eu era eu mesma. E tudo que se quer é que o dia termine bem. Ouvi dizer que só era triste quem queria.

Ouvi dizer que tudo vai ficar bem e que não se pode mentir, como eu acabei de fazer.
Eu iria respirar de novo.
E continuar como eu sempre fiz.
Mas alguma coisa estava fora do lugar, e não eram os livros.. percebi que era eu e essa frieza querendo voltar pra eu deixar todos eles esperando do lado de fora.

Eu nunca soube amar. E nunca soube sofrer.

E agora.. bem. Agora eu desligaria essa porra de musica. Largaria essa bebida. E te afogaria e esquecia, para sempre.
Esse era o fim do nosso contrato. 

domingo, 13 de maio de 2012

Ainda era cedo. Ou talvez fosse tarde demais.


Ainda era cedo. Ou talvez fosse tarde demais.. De certa forma eu teria que resolver isso. Logo eu, que nunca resolve, que nunca quer, que nunca sabe. Eu me bati de frente comigo mesma. Como se em um sonho eu pudesse me observar. O ódio e o amor intercalados. Meus olhos estavam ofuscados pra perceber o que acontecia realmente. Mas eu já sabia.. a muito tempo eu soube. O gelo tinha sido queimado. E as chamas e a fumaça me sufocavam. Eu não conseguia ver a escadas ou como sair de lá. Então você pulou a janela. Eu fiquei. Tudo que eu conseguia ver era sua camiseta xadrez dobrando a próxima esquina. Ficamos eu, a fumaça e o fogo. Naquela noite eu havia mudado e entendido o que todo mundo falava por aí. Meu coração não batia forte. E aos poucos eu ia fechando os olhos e parando de respirar. Aquela merda ia acabar comigo. Todos estavam presentes e gritando pra eu pular. Mas eu tinha que permanecer no chão. Ofegante eu tinha que ficar lutando contra mim mesma e contra meus erros anotados no papel. Não era só o gelo que derretia. Eu também derretia e queimava ao mesmo tempo.
As coisas tinham mudado no instante em que eu resolvi sair da casca. Amor sempre me deu um pouco de medo, mas sempre foi tão bom. Então eu saí, peguei um pouco de sol e escondi no fundo do meu peito a rivalidade toda que eu tinha em cima de sentimentos. Você pegou suas coisas e foi embora sem trancar a porta, pelo prazer de me ver te assistindo enquanto eu ficava sentada na escada pensando aonde foi que nos perdemos. Quando foi que começamos a nos machucar desse jeito. Era tarde demais, eu estava derretida e sensível como uma mulherzinha. Você estava forte e durão como um homem de verdade. Trocamos os papeis por alguns instantes. Eu já não conseguia viver assim, quebrando barreiras, arrancando paredes e pulando muros pra poder sentir alguma coisa. Eu nunca quis ficar. Nunca quis ver um filme junto e nunca quis uma casa só nossa. Nunca pensei nas crianças correndo de meia pela casa e nunca mandei uma carta. Porque eu queria me focar no que estávamos fazendo. Mas eu nunca disse que algum dia não pensaria nisso. Ninguém tinha sido culpado. Eu só lavava as roupas e você dirigia o carro. Essa monotonia e esse silêncio acabavam comigo todos os dias. Ou talvez não fizesse diferença mais.
Dizem por aí que quem planta colhe. Eu estava colhendo. Porem ninguém me conhecia. Mais do que ver eu enxergava. As coisas estavam fora do lugar á muito tempo. Eu tinha aprendido o que é querer algo que eu não tenho. Você tinha aprendido o quanto era difícil lidar com alguém que não te deixa ficar até as 7h da manhã na cama. Hoje tinha sido o primeiro dia, do nosso ultimo dia. Eu ainda tinha alguns cigarros e uns livros bons por aqui e eu ficaria bem com isso. Eu ainda escutava Boston enquanto escrevia. E me perguntava aonde eu ia acabar agora? Se essa era mesmo a ultima vez e se amanhã eu não voltaria de malas e cuia pra tua porta. Me perguntava se eu poderia arrumar e concertar. Se quem sabe a gente tentasse só mais uma vez. Mas eu já tinha dito antes. As cores jamais voltariam a se juntar.
Eu sentia uma dor que eu não entendia no peito. Talvez eu precisasse chorar. Eu já não sei como terminar essas palavras. E eu fico olhando essa tela branca com medo do fim. Porque isso é tudo o que eu tenho a oferecer. Essas são as minhas ultimas palavras. Amanhã é outro dia e eu já quase me sinto como antes. As pessoas vêem, invadem e querem derrubar a tua mente. Embaraçar as coisas. Mas no final tudo acaba assim, solitário e vazio. Você tinha ido pra Marte e eu pra Lua. Foi assim que tudo acabou. O que eu pensei que um dia ia me fazer pensar sobre as crianças de meia pela casa. Tinha sido só uma paixão de verão. E assim como eu, o frio estava chegando. Eu queria ao menos lembrar o teu nome, mas tudo que eu lembro é aquela camisa xadrez dobrando a esquina. Espero nunca mais te ver pra nunca mais lembrar que agora eu sou melhor por tua causa. O vento sopra minha janela de vagar, a musica da as ultimas notas e o ‘nós’ se separar e esvairá pelo ar pra sempre. Assim como essas palavras, essa era mais do que uma história, esse era o nosso fim.

domingo, 6 de maio de 2012

Para começar.


Queria todos os dias um pouco de mudança. Daí mexia na cama, arrumava essa outra caixa, escrevia bilhetinhos. Mas tudo continuava intacto, os moveis mudavam, mas as coisas não. Demoramos muito tempo até perceber que o problema ou a solução não esta em uma casa nova. Em um carro novo ou em um lugar bacana. A solução ou o problema esta em nós, em insistirmos em coisas inacabadas e fechar a porta sem dizer tudo o que tínhamos a dizer. O problema esta em não resolver, em não dar à cara a tapa, e só chavear o diário como se aquilo nunca tivesse acontecido. Podemos mudar de roupas, de cor de cabelo, de bebida no copo. Mas nós continuaremos lá, muito alem da própria pele. Nossa essência continuará a mesma, assim como as dores e as imperfeições. Maquiagens sempre em primeiro lugar. Mas maquiagem é feita para ser borrada. Assim como vestido para ser amassado. O que importa é sabermos que em baixo disso tudo não existem mais meio termos ou algum passado obscuro. Melhor do que dançar até a maquiagem derreter é ter a consciência limpa quando isso acontecer. Melhor do que o vestido cair, é saber que você esta livre pra fazer o que quiser.
Eu me culpava todos os dias por não seguir as regras e a minha lista de vida. Lista a qual eram coisas que eu queria melhorar, porem que nunca conseguia. Porque ao invés de e ir até o final eu resolvia trocar por outra na metade. Ou esperar mais um dia pra arrumar a cama. Pra tirar o pó. Eu sempre esperava por uma mudança pra mudar realmente tudo. Sempre queria um quarto novo, porque seriam novos ares e eu estaria melhor. Mas agora tudo se explicava. Eu tinha que parar de querer mudar o resto do mundo. E mudar o meu primeiro. Eu tinha que parar de querer se apaixonar por alguém do sorriso bonito e me apaixonar por mim mesma antes. Como é que eu poderia saber como viver em um relacionamento se eu mal conseguia viver sozinha dentro do meu quarto. Como é que eu poderia mudar o mundo. Se o meu lixo ainda estava no chão e a minha bagunça perdida pelos cantos. Eu tinha que parar de escrever em post-it’s  e começar a escrever a minha vida, enquanto fazia ela. Enquanto termino o que nunca terminei.
Nos tornamos escravos de nós mesmos por falta de se olhar no espelho. Sempre mandamos as pessoas fazerem isso, mas e a gente como fica? Você já se olhou no espelho hoje e se apaixonou pelo seu sorriso? Você já se olhou no espelho hoje pra ver o que estava faltando? Precisamos nos enxergar, parar de fugir e encarar. Precisamos parar de ser esses escravos sem saída que ficam repousando o tempo todo. Que não levantam vôo por medo da queda. Eu to querendo outra vida, jaz faz um bom tempo que eu tenho vontade de fugir. Mas eu me enxerguei no espelho e mesmo confundida com o mundo e suas tarefas eu to aqui tentando arrumar o que alguém bagunçou algum dia e não voltou pra concertar.
Dessa vez eu peguei uma caneta e comecei a escrever tudo que já não me pertencia e não fazia falta. Amassei e joguei fora. Terminei os livros que havia deixado pela metade. Terminei as discussões que antes eu só ouvia e fechava a porta pra que acabasse. Terminei aquele cigarro guardado que era muito forte. Joguei os lixos no lugar certo. Apaguei as fotos e me formatei. Agora resta eu e você, juntos e sempre perdidos. Ainda resta esse vazio no nosso meio que nada se preenche. Ainda restam aqui esse olhar de calmaria e tristeza que mais do que eu, você também consegue ver.. mas se cala. Eu não quero me calar essa noite. Estamos aqui, frente a frente, feito um espelho que já não sorri como antes. Precisamos parar de nos prender. Porque eu to querendo você mais do que a mim mesma. Só que quando estamos juntos as coisas não funcionam assim, eu sou uma peça defeituosa que precisa de concerto. E agora pra chegar aonde eu quero. Estou arrumando e terminando tudo o que nunca terminei antes. Talvez esse seja o nosso fim. Mas não vamos apenas fechar as portas.
(gritos, lágrimas e um adeus) foi assim que terminamos o que já estava pela metade. E eu peço-te que vá para sempre, dessa vez nem porta e nem janelas estarão abertas. Era difícil pra nós dois. Mas nos prender estava acabando com todo o resto. Dessa vez, ao contrário de antes e de reticência, esse era o nosso ponto final.

“Para provar novos chás, é preciso antes, esvaziar a xícara.”

sábado, 5 de maio de 2012

...


(no desabafar da noite..) Não havia sido a primeira vez que eu sentia aquilo. Aquela sensação tomando meu corpo todo e me deixando em pedaços sobre o assoalho da sala. Era como se cada mínimo tecido de pele se derretesse aos poucos. Era uma dor tão grande que não cabia a mim só chorar. Chorar era quase impossível. Isso tudo se misturava em ódio, saudade e rancor ao mesmo tempo. As vezes eu começava a rir como uma idiota sem saber o que fazer e que rumo tomar.
Era por isso que eu não tinha coragem de voltar lá. E eu não poderia confessar isso. As paredes estavam fora do lugar e as coisas caídas em um canto. Era difícil pra eu encarar tudo aquilo sorrindo o tempo todo. Eu se lembrava de cada palavra que tinha falado. Lembrava de todos os abraços e da ultima vez que eu a vi. Não posso saber se queria me pedir alguma coisa, pois sua voz já não saia. Eu nem ao menos tentei voltar e pedir que repetisse. Eu era fraca, assim como eu estou sendo agora. Eu tinha deixado de lado a coisa mais importante da minha vida por pensar que duraria para sempre. Não posso voltar atrás e todos os dias que se passam eu me torno cada vez mais um nada. Um nada de gente, um nada de pessoa, um nada de alguém. Eu estava completamente vazia de mim. E o que me restava agora eram as lembranças e as dores que isso trazia.Não foi sua culpa, eu fico feliz de lembrar como você sabia cativar com um sorriso. O que me faz sofrer é saber que eu não voltei pra escutar mais uma vez. Que eu não fiquei intacta te olhando alguns segundos pra decorar cada traço teu. Do que eu me lembro são as histórias, a matança, a bagunça e a felicidade que eu tinha em cada manhã ao acordar e te ouvir. Eu não te ouço mais a muito tempo, eu não sei se estou fazendo o certo.
E todas as vezes que eu voltava naquele assoalho minhas costas quebravam ainda mais. Ninguém enxergava o que estava acontecendo. Mas eu não poderia mentir, eu não suportava mais a sua falta e a única certeza que eu tinha era de que você não voltaria, nem amanhã e nem depois. Você tinha mesmo me deixado para sempre. E eu não poderia aceitar. E eu teria que continuar ali, sem esquecer tudo o que me ensinou e tendo que engolir os sapos que faziam ser real. Tendo que engolir a hipocrisia das comemorações. Tendo que fingir pra mim mesma que você nunca existiu. Nunca me fez um café ou um lanche da tarde. Tendo que fingir que eu não lembro mais de como você acordava e fazia um barulho estranho. Eu não posso me afastar agora e é por mim e por você que eu continuo ali, fingindo fazer parte daquela mentira toda. Fingindo cantar parabéns com sinceridade. Fingindo que a melhor pessoa que eu já conheci nunca existiu de verdade. Hoje seria o seu aniversário e eu tive mais uma vez que fechar os olhos e fingir de que durante o tempo todo em que eu estive lá, não foi só pra esperar que você aparecesse pra me sorrir de longe. Eu nunca vou desistir de você. Eu nunca vou esquecer você. E nunca vou parar de te pedir pra que não me deixe nunca, pra que possas um dia sentir orgulho e me conhecer como você nunca conheceu. Hoje seria o seu dia e o que mais uma vez me parte ao meio é saber que no lugar de um abraço tudo que eu tenho a lhe oferecer são flores e um milhão de lágrimas feitas por saudade. Benção vó.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Mais do que recomeçar. Começar.


Mesmo quando eu dizia que não eu sabia o quanto estava cansada. Das pessoas, das suas boas intenções, das más intenções também. Eu estava cansada com o passar dos dias. Pior do que as coisas não mudarem é que elas mudavam, porém pra pior. A solidão já não me era estranha e eu não á alarmava. Eu á guardava comigo, minha companhia. Eu já não conhecia ninguém, os caminhos tinham mudado. Uns permaneciam, outros voltavam ás vezes. Mas não era como antes, um dia as coisas iriam rodar, um dia falaríamos adeus, mas era cedo demais. Não fizemos metade do prometido. Só que agora o tempo não voltaria atrás e nem vocês.
Eu cansava de ser fria, de coração congelado, de não me importar. Cansava de falar disso o tempo todo. Eu não sentia o amor como as outras pessoas, mas eu ainda falava dele como elas. Estava presente em cada linha de cada texto ruim que eu rabiscava. Ele estava lá da maneira que fosse, fosse em falta ou em abundância. E foi aí que eu percebi que talvez ele tivesse só descansando em meu peito e nunca saído dali.
Só que agora não era hora de pensar nisso. Eu não sentia nada, porem continuava falando em sentimentos. E isso se tornava cada vez mais repentino e cada vez mais verdadeiro. Eu só estava cansada. Eu sempre quis o colo amigo, mas recomeçar nem sempre ajudava muito. Talvez fosse aí que eu estava errando esse tempo todo. Recomeçar a amizade, recomeçar o namorado, recomeçar os livros que nunca terminei. Recomeçar a tirar aquela musica bacana pro sábado á noite. E isso ia me matando cada vez mais, até o dia em que eu percebi que talvez fosse a hora de arrumar novas amizades, conhecer um novo namorado. Comprar um livro novo e deixar os que eu nunca terminei na lixeira pra fora do prédio. Eu sei que seria melhor terminar o que já tinha começado, mas se isso não te leva nunca a lugar algum, afinal porque continuar? Tem tantos livros por aí, tanta gente que escuta o mesmo grupo musical. Tantos sorrisos querendo ser vistos. Eu tentava todos os dias recomeçar porque acreditava que era o melhor a fazer. Mas quando se faz uma faxina a gente joga tudo no lixo e não importa aonde isso tudo acabe, que acabe longe da gente. Que tenhamos novas esperanças e focos melhores. O recomeço não poderia ajudar muito. O zero era um numero sem vida, indeciso. Que não sabe exatamente o que quer. E talvez usássemos ele como desculpa pra começar de novo, porque não sabíamos aonde queríamos estar de verdade. Recomeçar é juntar velhas feridas, velhos hematomas. Passar maquiagem e fingir que sumiu. É colocar uma nova mascara, de vida melhor, de beijo melhor, de abraço cheio de nostalgia. Mas um dia ou outro a gente sai por aí e se molha, pega chuva sem querer e a maquiagem vai borrar. As mascas vão cair.
Bilhões de novos livros estão por ai esperando a serem lidos. Vamos usar a maquiagem pra conhecer alguém novo, se apaixonar de novo, nos dar essa chance de conhecer novos beijos e querer ficar mais uma vez. Cobertor velho agasalha melhor, mas nem sempre nos deixa com cara de renovados. Eu estava completamente perdida e sentia como se minha vida passasse entre minhas mãos todos os dias sem eu saber aonde é que eu estava. Eu queria começar de novo, um novo lugar. Novas pessoas. Esquecer que gostavam do meu perfume e trocá-lo por um melhor a invés de só repor quando acabar. Eu queria e enlouquecia por uma vida nova. E mesmo que agora não fosse possível eu começaria aos poucos.
Mas faxina de verdade. Sem livros velhos que eu nunca terminei. Sem fotografias antigas. Sem beijos iguais. Ou flertar com os de sempre. Ás vezes a gente percebe que trocar a tequila pela clichê cervejinha poderia nos fazer um bem enorme. E que colocar o boné virado também. Quem sabe sair por aí vestida como sempre quis, mas que nunca o fez por medo de escândalo. De bocas abertas, de risos alheios. Eu sairei por aí com uma roupa nova e extravagante se eu sentir vontade. Estou cansada de escrever sobre meus fracassos amorosos e recomeços diários. Eu queria gente nova, assunto novo, risada nova. E uma vez na vida que fosse eu não queria só continuar e recomeçar. Uma vez que fosse eu gostaria de dizer adeus e começar de onde não existe nada, construir uma história de onde nem se ouve falar de uma. Jogar fora o que não me for agradável. Guardar tudo que me fez grande no passado. E ser enfim quem eu sempre fui, mas que sempre tive medo de ser.

Com disse o sábio Caio: "Lâmpada queimada não se conserta. Se troca por outra." E não importa do que estamos falando. Seja mudar de homem, de mulher, de roupa, de marca de café ou de vida. Estamos e somos livres pra começar mesmo quando não existir esperanças ou espaço. Somos livres para ser inteligentes ou burros, mas precisamos, de uma forma ou de outra parar de ver o mesmo filme e começar a fazer um novo. Porque convenhamos, nada melhor do que a sensação de experimentar alguma coisa jamais vista ou experimentada antes. Nada melhor do que trombar no metro com alguém do sorriso bonito que te faça tremer por dentro e depois ir embora sem ao menos saber o nome ou sem ao menos ter a certeza de que o veremos outra vez. Como eu disse, não importa do que eu esteja falando. Não irei recomeçar a tatuagem, irei fazer outra. Como eu vou saber se não vai me fazer mais feliz ou ser muito mais bonita do que a velha que já esta se apagando?