domingo, 6 de maio de 2012

Para começar.


Queria todos os dias um pouco de mudança. Daí mexia na cama, arrumava essa outra caixa, escrevia bilhetinhos. Mas tudo continuava intacto, os moveis mudavam, mas as coisas não. Demoramos muito tempo até perceber que o problema ou a solução não esta em uma casa nova. Em um carro novo ou em um lugar bacana. A solução ou o problema esta em nós, em insistirmos em coisas inacabadas e fechar a porta sem dizer tudo o que tínhamos a dizer. O problema esta em não resolver, em não dar à cara a tapa, e só chavear o diário como se aquilo nunca tivesse acontecido. Podemos mudar de roupas, de cor de cabelo, de bebida no copo. Mas nós continuaremos lá, muito alem da própria pele. Nossa essência continuará a mesma, assim como as dores e as imperfeições. Maquiagens sempre em primeiro lugar. Mas maquiagem é feita para ser borrada. Assim como vestido para ser amassado. O que importa é sabermos que em baixo disso tudo não existem mais meio termos ou algum passado obscuro. Melhor do que dançar até a maquiagem derreter é ter a consciência limpa quando isso acontecer. Melhor do que o vestido cair, é saber que você esta livre pra fazer o que quiser.
Eu me culpava todos os dias por não seguir as regras e a minha lista de vida. Lista a qual eram coisas que eu queria melhorar, porem que nunca conseguia. Porque ao invés de e ir até o final eu resolvia trocar por outra na metade. Ou esperar mais um dia pra arrumar a cama. Pra tirar o pó. Eu sempre esperava por uma mudança pra mudar realmente tudo. Sempre queria um quarto novo, porque seriam novos ares e eu estaria melhor. Mas agora tudo se explicava. Eu tinha que parar de querer mudar o resto do mundo. E mudar o meu primeiro. Eu tinha que parar de querer se apaixonar por alguém do sorriso bonito e me apaixonar por mim mesma antes. Como é que eu poderia saber como viver em um relacionamento se eu mal conseguia viver sozinha dentro do meu quarto. Como é que eu poderia mudar o mundo. Se o meu lixo ainda estava no chão e a minha bagunça perdida pelos cantos. Eu tinha que parar de escrever em post-it’s  e começar a escrever a minha vida, enquanto fazia ela. Enquanto termino o que nunca terminei.
Nos tornamos escravos de nós mesmos por falta de se olhar no espelho. Sempre mandamos as pessoas fazerem isso, mas e a gente como fica? Você já se olhou no espelho hoje e se apaixonou pelo seu sorriso? Você já se olhou no espelho hoje pra ver o que estava faltando? Precisamos nos enxergar, parar de fugir e encarar. Precisamos parar de ser esses escravos sem saída que ficam repousando o tempo todo. Que não levantam vôo por medo da queda. Eu to querendo outra vida, jaz faz um bom tempo que eu tenho vontade de fugir. Mas eu me enxerguei no espelho e mesmo confundida com o mundo e suas tarefas eu to aqui tentando arrumar o que alguém bagunçou algum dia e não voltou pra concertar.
Dessa vez eu peguei uma caneta e comecei a escrever tudo que já não me pertencia e não fazia falta. Amassei e joguei fora. Terminei os livros que havia deixado pela metade. Terminei as discussões que antes eu só ouvia e fechava a porta pra que acabasse. Terminei aquele cigarro guardado que era muito forte. Joguei os lixos no lugar certo. Apaguei as fotos e me formatei. Agora resta eu e você, juntos e sempre perdidos. Ainda resta esse vazio no nosso meio que nada se preenche. Ainda restam aqui esse olhar de calmaria e tristeza que mais do que eu, você também consegue ver.. mas se cala. Eu não quero me calar essa noite. Estamos aqui, frente a frente, feito um espelho que já não sorri como antes. Precisamos parar de nos prender. Porque eu to querendo você mais do que a mim mesma. Só que quando estamos juntos as coisas não funcionam assim, eu sou uma peça defeituosa que precisa de concerto. E agora pra chegar aonde eu quero. Estou arrumando e terminando tudo o que nunca terminei antes. Talvez esse seja o nosso fim. Mas não vamos apenas fechar as portas.
(gritos, lágrimas e um adeus) foi assim que terminamos o que já estava pela metade. E eu peço-te que vá para sempre, dessa vez nem porta e nem janelas estarão abertas. Era difícil pra nós dois. Mas nos prender estava acabando com todo o resto. Dessa vez, ao contrário de antes e de reticência, esse era o nosso ponto final.

“Para provar novos chás, é preciso antes, esvaziar a xícara.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário