Queria todos os dias um pouco de mudança. Daí mexia na cama,
arrumava essa outra caixa, escrevia bilhetinhos. Mas tudo continuava intacto,
os moveis mudavam, mas as coisas não. Demoramos muito tempo até perceber que o
problema ou a solução não esta em uma casa nova. Em um carro novo ou em um
lugar bacana. A solução ou o problema esta em nós, em insistirmos em coisas
inacabadas e fechar a porta sem dizer tudo o que tínhamos a dizer. O problema
esta em não resolver, em não dar à cara a tapa, e só chavear o diário como se
aquilo nunca tivesse acontecido. Podemos mudar de roupas, de cor de cabelo, de
bebida no copo. Mas nós continuaremos lá, muito alem da própria pele. Nossa essência
continuará a mesma, assim como as dores e as imperfeições. Maquiagens sempre em
primeiro lugar. Mas maquiagem é feita para ser borrada. Assim como vestido para
ser amassado. O que importa é sabermos que em baixo disso tudo não existem mais
meio termos ou algum passado obscuro. Melhor do que dançar até a maquiagem
derreter é ter a consciência limpa quando isso acontecer. Melhor do que o
vestido cair, é saber que você esta livre pra fazer o que quiser.
Eu me culpava todos os dias por não seguir as regras e a
minha lista de vida. Lista a qual eram coisas que eu queria melhorar, porem que
nunca conseguia. Porque ao invés de e ir até o final eu resolvia trocar por
outra na metade. Ou esperar mais um dia pra arrumar a cama. Pra tirar o pó. Eu
sempre esperava por uma mudança pra mudar realmente tudo. Sempre queria um
quarto novo, porque seriam novos ares e eu estaria melhor. Mas agora tudo se
explicava. Eu tinha que parar de querer mudar o resto do mundo. E mudar o meu primeiro.
Eu tinha que parar de querer se apaixonar por alguém do sorriso bonito e me
apaixonar por mim mesma antes. Como é que eu poderia saber como viver em um
relacionamento se eu mal conseguia viver sozinha dentro do meu quarto. Como é
que eu poderia mudar o mundo. Se o meu lixo ainda estava no chão e a minha
bagunça perdida pelos cantos. Eu tinha que parar de escrever em post-it’s e começar a escrever a minha vida, enquanto fazia
ela. Enquanto termino o que nunca terminei.
Nos tornamos escravos de nós mesmos por falta de se olhar no
espelho. Sempre mandamos as pessoas fazerem isso, mas e a gente como fica? Você
já se olhou no espelho hoje e se apaixonou pelo seu sorriso? Você já se olhou
no espelho hoje pra ver o que estava faltando? Precisamos nos enxergar, parar
de fugir e encarar. Precisamos parar de ser esses escravos sem saída que ficam
repousando o tempo todo. Que não levantam vôo por medo da queda. Eu to querendo
outra vida, jaz faz um bom tempo que eu tenho vontade de fugir. Mas eu me
enxerguei no espelho e mesmo confundida com o mundo e suas tarefas eu to aqui
tentando arrumar o que alguém bagunçou algum dia e não voltou pra concertar.
Dessa vez eu peguei uma caneta e comecei a escrever tudo que
já não me pertencia e não fazia falta. Amassei e joguei fora. Terminei os
livros que havia deixado pela metade. Terminei as discussões que antes eu só
ouvia e fechava a porta pra que acabasse. Terminei aquele cigarro guardado que
era muito forte. Joguei os lixos no lugar certo. Apaguei as fotos e me
formatei. Agora resta eu e você, juntos e sempre perdidos. Ainda resta esse
vazio no nosso meio que nada se preenche. Ainda restam aqui esse olhar de
calmaria e tristeza que mais do que eu, você também consegue ver.. mas se cala.
Eu não quero me calar essa noite. Estamos aqui, frente a frente, feito um
espelho que já não sorri como antes. Precisamos parar de nos prender. Porque eu
to querendo você mais do que a mim mesma. Só que quando estamos juntos as
coisas não funcionam assim, eu sou uma peça defeituosa que precisa de concerto.
E agora pra chegar aonde eu quero. Estou arrumando e terminando tudo o que
nunca terminei antes. Talvez esse seja o nosso fim. Mas não vamos apenas fechar
as portas.
(gritos, lágrimas e um adeus) foi assim que terminamos o que
já estava pela metade. E eu peço-te que vá para sempre, dessa vez nem porta e nem janelas estarão abertas. Era difícil pra nós dois. Mas nos prender estava acabando com todo o resto. Dessa vez, ao contrário de antes e de reticência, esse era o nosso
ponto final.
“Para provar novos chás, é preciso antes, esvaziar a
xícara.”
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