Ainda era cedo. Ou talvez fosse tarde demais.. De certa
forma eu teria que resolver isso. Logo eu, que nunca resolve, que nunca quer,
que nunca sabe. Eu me bati de frente comigo mesma. Como se em um sonho eu
pudesse me observar. O ódio e o amor intercalados. Meus olhos estavam ofuscados
pra perceber o que acontecia realmente. Mas eu já sabia.. a muito tempo eu
soube. O gelo tinha sido queimado. E as chamas e a fumaça me sufocavam. Eu não
conseguia ver a escadas ou como sair de lá. Então você pulou a janela. Eu
fiquei. Tudo que eu conseguia ver era sua camiseta xadrez dobrando a próxima
esquina. Ficamos eu, a fumaça e o fogo. Naquela noite eu havia mudado e
entendido o que todo mundo falava por aí. Meu coração não batia forte. E aos
poucos eu ia fechando os olhos e parando de respirar. Aquela merda ia acabar
comigo. Todos estavam presentes e gritando pra eu pular. Mas eu tinha que
permanecer no chão. Ofegante eu tinha que ficar lutando contra mim mesma e
contra meus erros anotados no papel. Não era só o gelo que derretia. Eu também
derretia e queimava ao mesmo tempo.
As coisas tinham mudado no instante em que eu resolvi sair
da casca. Amor sempre me deu um pouco de medo, mas sempre foi tão bom. Então eu
saí, peguei um pouco de sol e escondi no fundo do meu peito a rivalidade toda
que eu tinha em cima de sentimentos. Você pegou suas coisas e foi embora sem
trancar a porta, pelo prazer de me ver te assistindo enquanto eu ficava sentada
na escada pensando aonde foi que nos perdemos. Quando foi que começamos a nos
machucar desse jeito. Era tarde demais, eu estava derretida e sensível como uma
mulherzinha. Você estava forte e durão como um homem de verdade. Trocamos os
papeis por alguns instantes. Eu já não conseguia viver assim, quebrando
barreiras, arrancando paredes e pulando muros pra poder sentir alguma coisa. Eu
nunca quis ficar. Nunca quis ver um filme junto e nunca quis uma casa só nossa.
Nunca pensei nas crianças correndo de meia pela casa e nunca mandei uma carta. Porque
eu queria me focar no que estávamos fazendo. Mas eu nunca disse que algum dia
não pensaria nisso. Ninguém tinha sido culpado. Eu só lavava as roupas e você
dirigia o carro. Essa monotonia e esse silêncio acabavam comigo todos os dias.
Ou talvez não fizesse diferença mais.
Dizem por aí que quem planta colhe. Eu estava colhendo.
Porem ninguém me conhecia. Mais do que ver eu enxergava. As coisas estavam fora
do lugar á muito tempo. Eu tinha aprendido o que é querer algo que eu não
tenho. Você tinha aprendido o quanto era difícil lidar com alguém que não te
deixa ficar até as 7h da manhã na cama. Hoje tinha sido o primeiro dia, do
nosso ultimo dia. Eu ainda tinha alguns cigarros e uns livros bons por aqui e
eu ficaria bem com isso. Eu ainda escutava Boston enquanto escrevia. E me
perguntava aonde eu ia acabar agora? Se essa era mesmo a ultima vez e se amanhã
eu não voltaria de malas e cuia pra tua porta. Me perguntava se eu poderia
arrumar e concertar. Se quem sabe a gente tentasse só mais uma vez. Mas eu já
tinha dito antes. As cores jamais voltariam a se juntar.
Eu sentia uma dor que eu não entendia no peito. Talvez eu
precisasse chorar. Eu já não sei como terminar essas palavras. E eu fico
olhando essa tela branca com medo do fim. Porque isso é tudo o que eu tenho a
oferecer. Essas são as minhas ultimas palavras. Amanhã é outro dia e eu já quase
me sinto como antes. As pessoas vêem, invadem e querem derrubar a tua mente.
Embaraçar as coisas. Mas no final tudo acaba assim, solitário e vazio. Você
tinha ido pra Marte e eu pra Lua. Foi assim que tudo acabou. O que eu pensei
que um dia ia me fazer pensar sobre as crianças de meia pela casa. Tinha sido
só uma paixão de verão. E assim como eu, o frio estava chegando. Eu queria ao
menos lembrar o teu nome, mas tudo que eu lembro é aquela camisa xadrez dobrando
a esquina. Espero nunca mais te ver pra nunca mais lembrar que agora eu sou
melhor por tua causa. O vento sopra minha janela de vagar, a musica da as
ultimas notas e o ‘nós’ se separar e esvairá pelo ar pra sempre. Assim como
essas palavras, essa era mais do que uma história, esse era o nosso fim.
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