Mesmo quando eu dizia que não eu sabia o quanto estava
cansada. Das pessoas, das suas boas intenções, das más intenções também. Eu
estava cansada com o passar dos dias. Pior do que as coisas não mudarem é que
elas mudavam, porém pra pior. A solidão já não me era estranha e eu não á
alarmava. Eu á guardava comigo, minha companhia. Eu já não conhecia ninguém, os
caminhos tinham mudado. Uns permaneciam, outros voltavam ás vezes. Mas não era
como antes, um dia as coisas iriam rodar, um dia falaríamos adeus, mas era cedo
demais. Não fizemos metade do prometido. Só que agora o tempo não voltaria
atrás e nem vocês.
Eu cansava de ser fria, de coração congelado, de não me
importar. Cansava de falar disso o tempo todo. Eu não sentia o amor como as
outras pessoas, mas eu ainda falava dele como elas. Estava presente em cada linha
de cada texto ruim que eu rabiscava. Ele estava lá da maneira que fosse, fosse
em falta ou em abundância. E foi aí que eu percebi que talvez ele tivesse só
descansando em meu peito e nunca saído dali.
Só que agora não era hora de pensar nisso. Eu não sentia
nada, porem continuava falando em sentimentos. E isso se tornava cada vez mais
repentino e cada vez mais verdadeiro. Eu só estava cansada. Eu sempre quis o
colo amigo, mas recomeçar nem sempre ajudava muito. Talvez fosse aí que eu
estava errando esse tempo todo. Recomeçar a amizade, recomeçar o namorado,
recomeçar os livros que nunca terminei. Recomeçar a tirar aquela musica bacana pro
sábado á noite. E isso ia me matando cada vez mais, até o dia em que eu percebi
que talvez fosse a hora de arrumar novas amizades, conhecer um novo namorado.
Comprar um livro novo e deixar os que eu nunca terminei na lixeira pra fora do
prédio. Eu sei que seria melhor terminar o que já tinha começado, mas se isso
não te leva nunca a lugar algum, afinal porque continuar? Tem tantos livros por
aí, tanta gente que escuta o mesmo grupo musical. Tantos sorrisos querendo ser
vistos. Eu tentava todos os dias recomeçar porque acreditava que era o melhor a
fazer. Mas quando se faz uma faxina a gente joga tudo no lixo e não importa aonde
isso tudo acabe, que acabe longe da gente. Que tenhamos novas esperanças e
focos melhores. O recomeço não poderia ajudar muito. O zero era um numero sem
vida, indeciso. Que não sabe exatamente o que quer. E talvez usássemos ele como
desculpa pra começar de novo, porque não sabíamos aonde queríamos estar de
verdade. Recomeçar é juntar velhas feridas, velhos hematomas. Passar maquiagem
e fingir que sumiu. É colocar uma nova mascara, de vida melhor, de beijo
melhor, de abraço cheio de nostalgia. Mas um dia ou outro a gente sai por aí e
se molha, pega chuva sem querer e a maquiagem vai borrar. As mascas vão cair.
Bilhões de novos livros estão por ai esperando a serem
lidos. Vamos usar a maquiagem pra conhecer alguém novo, se apaixonar de novo,
nos dar essa chance de conhecer novos beijos e querer ficar mais uma vez.
Cobertor velho agasalha melhor, mas nem sempre nos deixa com cara de renovados.
Eu estava completamente perdida e sentia como se minha vida passasse entre
minhas mãos todos os dias sem eu saber aonde é que eu estava. Eu queria começar
de novo, um novo lugar. Novas pessoas. Esquecer que gostavam do meu perfume e
trocá-lo por um melhor a invés de só repor quando acabar. Eu queria e enlouquecia
por uma vida nova. E mesmo que agora não fosse possível eu começaria aos
poucos.
Mas faxina de verdade. Sem livros velhos que eu nunca
terminei. Sem fotografias antigas. Sem beijos iguais. Ou flertar com os de
sempre. Ás vezes a gente percebe que trocar a tequila pela clichê cervejinha
poderia nos fazer um bem enorme. E que colocar o boné virado também. Quem sabe
sair por aí vestida como sempre quis, mas que nunca o fez por medo de escândalo.
De bocas abertas, de risos alheios. Eu sairei por aí com uma roupa nova e
extravagante se eu sentir vontade. Estou cansada de escrever sobre meus fracassos
amorosos e recomeços diários. Eu queria gente nova, assunto novo, risada nova.
E uma vez na vida que fosse eu não queria só continuar e recomeçar. Uma vez que
fosse eu gostaria de dizer adeus e começar de onde não existe nada, construir
uma história de onde nem se ouve falar de uma. Jogar fora o que não me for agradável.
Guardar tudo que me fez grande no passado. E ser enfim quem eu sempre fui, mas
que sempre tive medo de ser.
Com disse o sábio Caio: "Lâmpada queimada não se conserta. Se troca por outra." E não importa do que estamos falando. Seja mudar de homem, de mulher, de roupa, de marca de café ou de vida. Estamos e somos livres pra começar mesmo quando não existir esperanças ou espaço. Somos livres para ser inteligentes ou burros, mas precisamos, de uma forma ou de outra parar de ver o mesmo filme e começar a fazer um novo. Porque convenhamos, nada melhor do que a sensação de experimentar alguma coisa jamais vista ou experimentada antes. Nada melhor do que trombar no metro com alguém do sorriso bonito que te faça tremer por dentro e depois ir embora sem ao menos saber o nome ou sem ao menos ter a certeza de que o veremos outra vez. Como eu disse, não importa do que eu esteja falando. Não irei recomeçar a tatuagem, irei fazer outra. Como eu vou saber se não vai me fazer mais feliz ou ser muito mais bonita do que a velha que já esta se apagando?
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