Eu não sei o que eu esperava. Dos outros e de mim mesma. As
coisas pareciam estar fora de si, como se tudo desse a volta e então desabasse
outra vez sobre minha pele fria e sangrenta. Eu não pertencia á aquele grupo,
aquela vida ou aquela rua. Eu nunca pertenci á aquele lugar e eu estava certa
disso. As pessoas não sabiam como eu era ou como eu sabia sorrir enquanto
morria por dentro. Elas não sabiam decifrar meus medos ou entender meus
tormentos. Mas eu nunca quis ser decifrada, eu só quis algumas mãos me
segurando enquanto corria pela floresta com medo do escuro. Talvez eu quisesse
de volta aqueles olhos que me davam o ar de proteção, ou aquele abraço que me
esmagava todas as raras vezes que acontecia.
O que era raro, hoje
nem existe mais. Eu tinha tomado decisões que mudariam tudo. Mas pessoa nenhuma
é lugar de repouso, como diz Daniel. Não poderia continuar com essa desculpa
por causa do inverno. Eu estava lá o tempo todo. Chocolate quente, um cigarro e
um vinho barato. Eu tinha o ombro de sempre e os braços pra me aquecer. E eu
fingia aquecer, assim como fingia o doce nos lábios. Mas não era como antes,
porque eu prometi que não seria. Antes era um abuso de vontade. Transmitia a
coisa toda. E todos em qualquer lugar podiam ver como eu sorria. Por mais que
não fosse amor, era diversão o tempo todo e a gente nunca ficava em silêncio.
Mas agora era pra ser melhor, eu quis que fosse o amor, aquele que te deixa
boba e com borboletas por toda a parte. Eu quis que agora fosse, finalmente,
amor. Só que meus olhos não poderiam mentir. Eu tinha feito parte da escolha
errada. Eu não poderia e nem iria admitir agora. Mas as coisas estavam
completamente sufocantes, não como antes, porque agora a distancia não poderia
ajudar. Era um tipo de sufoco no peito, sufoco por mal-estar. Não havia duvidas
ou indecisões ou o que quer que seja. E talvez esse fosse o problema. Não havia
mais nada ali. Tentativa de amar enlouquecidamente, tinha dado errado. Eu já
não sabia qual era o meu lugar. Via os amigos se afastando e o ano passando de
pressa com muita solidão de companhia. Não ouvia o canto dos pássaros ou os
gritos pela minha janela. Muito menos os risos do anoitecer.
Eu tinha enfim me acalmado. Tentava todos os dias procurar o
meu lugar, um aconchego, um peito quente e macio. Procurava todos os dias por
borboletas, por olhos brilhando e vontade de te fazer ficar realmente como eu
nunca fiz com ninguém. Mas me precipitei, as coisas estavam acomodadas demais.
Meus olhos não poderiam mentir, mas ninguém veria isso. Porque ninguém me
conhecia o bastante. Esse não era o meu lugar, eu nunca quis me repousar e
ficar aqui porque era bom. Eu queria ficar por vontade própria, eu queria ir e
voltar com o mesmo sorriso. – Tens razão. Eu estou aqui porque eu escolhi,
porque eu quero. Mas agora estou repousando por que não tenho esperanças de ir
pra outro lugar e não porque é isso que eu escolhi pra mim. Eu tenho planos e
desejo que o tempo passe rápido como esta sendo. Percebi assim, meio aos cacos,
meio machucada que amor a gente não pede e nem inventa. Muito menos procura..
Só que eu vou ficar, vou esquentar quando precisar. E inventar quando faltar.
Desistir nunca foi meu forte. Mesmo agora quando eu estou aqui, fazendo todo
mundo acreditar que é isso que eu quero e que é por isso que eu continuo. Eu
continuo por mim mesma e com a certeza de que se esse nosso mundo desabar, eu
mesma estarei lá em baixo pra me segurar. Porque a solidão mesmo estando em
dois, se torna cada vez mais sadia e mais forte. E eu sou agora, o meu inimigo
intimo continuando essa batalha pra ver até onde um de nós acaba. Ou se um dia
os cacos sobre o chão voltem e façam de mim, alguém mais quente e melhor. – Pra
mim e pra você.
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