domingo, 22 de abril de 2012

Deixa pra depois

Acabei aqui, no mesmo lugar de sempre. Escrevendo sobre as mesmas canções, deixando as cinzas no chão. Me perdendo entre solidão, cigarros e um vinho barato. Mais uma vez tentando me encontrar dentro da minha própria perdição.
Sentia a pele arrepiar, o frio momentâneo me fazia querer os abraços, mas de longe meus olhos seguiam apenas você. Quanta covardia me fazer querer desistir logo agora. Quanta covardia sorrir assim Sr. Perigo..
Perigo era o meu nome e de quem se metia comigo, de quem entrava no meu caminho em busca de um pouco de amor e carinho. Eu nunca ofereceria o que eu não tinha, eu jamais convidaria pra entrar se eu tivesse a chave pra te deixar sair depois..

- (...)

- Amor, o quanto você me ama? O que você acha melhor: Julia ou Bernardo.. Sim, quero mesmo ter dois filhos, acho que os olhos serão da cor dos seus. Talvez o cabelo seja o meu, mas o que você acha?

- (...)


 .. Mesmo assim você veio, mais uma vez baixou a cabeça e revidou. Mais uma vez pegou minhas mãos geladas e pediu que eu sentisse teu coração cavalgando sobre seu peito. Mais uma vez, uma última vez me olhou com os olhos verde claro, feito esmeralda no mar e me pediu pra tentar.
Estou aqui, onde eu sempre quis estar. Aconchegada entre teu calor e minha frieza de sempre. Estou aqui aconchegada, no lugar onde muitas queriam estar. Mas você sempre preferia a mim, porque sabias que eu não ficaria por muito tempo. E você adorava isso em mim, adorava se ajoelhar e rastejar por um dia a mais. Se não gostasse, não chegaria mais perto só pra dizer “você não presta.” O problema é que eu prestava, que eu pensava em nós dois dentro de um carro qualquer indo pra qualquer lugar. Pensava mesmo em subir as montanhas com um violão nas costas. Pensava em tirar tuas roupas e te ver sorrindo esse sorriso abobalhado de sempre. Adorava o seu jeito de me olhar fixamente como se o mundo estivesse desabando e nós fossemos a tragédia de tudo, a tragédia que fazia aquilo tudo dar certo. Juro que eu imaginava nós dois brincando de se perder sobre a sua espuma de barbear e sua barba mal feita. Sua camiseta favorita no meu corpo pela manhã. Teu cabelo que de jeito nenhum conseguia ficar feio. Única coisa que nos separava e me fazia querer fugir era que esse ‘nós’ não éramos você e eu. Talvez eu e alguém. Mas você não fazia parte. Amanhã quem sabe eu me arrependa e te queira por todos os dias da minha vida. Mas ainda éramos só jovens perdidos com vontades estranhas e fora de horário. Não poderíamos prometer nada a não ser alguns drinks e uns cigarros pela avenida vazia da cidade grande. Não havia muito mais que isso. Eu ainda tinha aquele fraco por um amigo. Eu ainda pensava em fugir pela janela enquanto você dormia feito um anjo sobre o lençol azul. Que se quer bagunçamos um dia. Não é você querido, talvez seja só eu mesma. Talvez não estejamos prontos pra isso. Eu mal sei como decorar o meu quarto, eu mal sei o que eu prefiro beber. Eu ainda nem sei se eu prefiro a lua ou as estrelas. E talvez eu nunca saiba, talvez eu nunca cresça e só te assista de longe pra ver o quanto tu é gato e o quanto você tem um rostinho de quem não mergulharia tão fundo com medo de se perder.
Mas eu sempre me perco, tanto quanto as vezes que me acho. E as vezes nem me reconheço mais, as musicas mudam, as pessoas vão indo embora cada vez mais cedo. A escola vai ficando pra trás, mesmo com todo o atraso que eu tive e o meus sonhos vão aumentando mais e mais. Eu não poderia te prometer nada mais do que isso. Um sorriso aqui, uma embriagues ali e um pouco de história juvenil. Eu ainda era aquela bêbada sentada na esquina de um beco com os 20 e poucos amigos de sempre. Contando as pedras, julgando o amor e desejando a vida. Me sentia sozinha, precisava de um pouco de carinho porque todo mundo precisa. Queria uma companhia pra festa de gala. Fotos fofinhas no mural. E adorava fazer ciúmes em todo mundo por você ser o melhor e eu estar com o melhor. Puro marketing, propaganda mesmo. Espero que eu não seja julgada por não querer ficar para sempre.
Mas entenda, não é você, nem a minha indecisão, nem a minha falta de maturidade. Não é culpa do coração, porque ele ainda ta aqui no peito, sã e batendo normalmente. O problema não é o gelo demais na minha bebida ou o quanto eu tenho gostos estranhos. Mas a vida ta aí e eu só vou atrás dela quando eu realmente estiver pronta. Agora eu não posso te chamar de namorado se eu não te quiser na minha cama pela manhã. Agora eu não posso te chamar de namorado se tudo isso for mesmo só por gosto de ver o ciúme na cara daquelas vadias. Agora eu não posso te chamar de namorado quando eu nem sei o que é ter um. Amorzinhos de infâncias e talvez demore ainda pra eu aprender. E talvez eu ainda chore muito por culpa de não saber o que é querer pra sempre. Mas eu quis pra sempre a minha família e os meus amigos. E eu quis pra sempre aquela essência de narguilé. E eu quis pra sempre aquela musica que me inspirava. Mas ainda não estou pronta pra ficar para sempre pra alguém. Pelo menos não na tua vida. E eu sei que eu disse que estava cansada de mentir, mas estou aqui, sendo sincera como não se pode ser. Quero mesmo que sejas toda a felicidade que puder. Mas por favor, seja então assim, aqui e agora. Deixa o futuro lá na frente e esse papo de morrer por alguém também. E esse papo das crianças correndo de meia pela casa também. Deixa esse papo de continuar aqui depois das 7h da manhã. Deixa pra lá esse papo de mãos dadas na rua todos os dias. Deita do meu lado e me deixa te acariciar. Me deixa bagunçar um pouco teu lençol só pela madrugada. Me deixa cantar um pouco no teu ouvido. Mas podemos ainda brincar de ser sérios entre a escuridão do meu quarto, ou a escuridão do cinema. Ainda podemos brincar de ser sérios quanto estiveres carente e sozinho demais e vice e versa. Podemos brincar de ser sérios. E mesmo que eu sinta demais por isso, não me peça pra amar demais agora, pra ficar pra sempre agora. Porque eu ainda preciso aprender o que isso realmente significa. Podemos até ter uma paixãozinha de verão, ou de inverno que seja. Mas não me peça por intensidade. Eu adoro minhas festinhas, os bons drink’s e as companhias da noite. Eu ainda adoro ficar aqui quieta e sozinha com um livro bom. Eu ainda gosto de ser feliz sozinha, de errar sozinha e crescer com isso. Eu deixo você ser o que você quiser, só não me peça pra ser só tua. Porque algum dia eu vou querer muito alguém só pra mim, que vai arder no meu peito até aprender que nunca é cedo demais pra se entregar e amar. Mas agora eu ainda não preciso disso. E a vida tem muito pra me ensinar. Não me xinga não, não grita assim não. Não coloca a culpa na minha frieza, nem nos meus machucados. Não fala assim. Cala a boca e vem aqui, deitar um pouco, bagunçar um pouco e ver que é cedo demais, cedo demais pra se levar assim tão a sério. Vamos lá meu bem, curta aqui, do jeito que quiser. Não seja antecipado. As responsabilidades vão chegar, o amor vai chegar, o arrependimento também. Mas deixa pra depois. A barba ainda vai crescer e eu ainda vou ter que procurar muito por aí até achar aquele alguém que vou chamar de ‘amor da minha vida.’ Quero mesmo que isso aconteça um bilhão de vezes, mas que seja sincero e que não seja agora. Porque agora é cedo demais pra querer ficar pra sempre. Estende a mão, pega um cigarro e vêm aqui bagunçar um pouco mais essa minha cabeça que já esta bagunçada e querendo se consertar. Mas hoje não vamos falar de eterno, amanhã quem sabe. Hoje não, somos ainda só duas crianças descobrindo o mundo.. não podemos pensar em fazer as nossas ainda.

- (...)

- O que foi? Porque ficou tão pensativa assim? Não gosta dos nomes?

- Não sei guri! Prefiro pensar em estrelas por enquanto e dar nome só a elas. Pega mais um cigarro aí e vêm me contar dos teus sonhos da madrugada vem. Deixe esse papo pra outros tempos. Qtal?

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