quinta-feira, 17 de maio de 2012

A etapa.


Já tinha vivido muitas. Assim como todas as milhares de pessoas que hoje andam e se arrastam por aí. Durante essa difícil semana tudo que eu fiz foi escrever. Mas agora eu entendia que tinha que parar de mentir. Mentir sobre a dor, sobre a falta. Parar de cantarolar sobre amores em todas as linhas. Desta vez eu estava limpa. Sem álcool pra esquecer, sem cigarros pra disfarçar e medicamentos fortes pra dormir. 
Foi exatamente lá onde tudo começou e terminou. Fiquei deitada sobre aquele assoalho frio durando 7 dias e 7 noites. Eu sentia cada osso da minha coluna congelar. Sentia meus dedos tremerem e segundos depois tudo aquilo virava pó. E era como se eu não existisse.
Eu não conseguia gritar. Minhas lágrimas não caiam e a euforia pairava pouco a pouco naquele ar frio e seco. Eu não sentia mais nada. Não sentia o sorriso me atormentando. Não sentia o eco dos gritos da rua. Eu fiquei ali deitada feito um defunto. Não pisquei, não ouvi as batidas do meu coração. Não senti o sangue pulsando nas mais minúsculas veias á baixo de minha pele. Eu insisti. Quebrei minhas regras e esperei. Ansiosamente cada segundo que se passava. Eu esperei todas as vezes que o sinal batia. Meus olhos procuravam, mas nunca encontraram nada satisfatório. Era como cavalgar. Meu corpo estava lá, mas minha mente não. O vento tocava forte o meu rosto, arrancando meus cabelos de perto do corpo. Tudo ao lado parecia borrado e correndo. Eu não sentia, não ouvia, não movia. Sentei-me cansada, calada, exausta, melancólica. Triste, rancorosa. Eu sabia que meu coração não estava partido e que eu não iria sangrar até a morte. Era como se uma partezinha do meu cérebro só estivesse me lembrando como era aquela dor. – A dor da perda. Mas nunca é tarde demais e não tinha sido. Não era tarde demais para esperar. Não era tarde demais para se arrepender. Não era tarde demais para sentir tudo ou sentir nada. Não era tarde demais para começar, recomeçar, remar. Eu respirava em baixo da água e observava o silêncio dos peixes. Eu era o silêncio gritando em mim. Nunca foi tarde demais para reconhecer, se perdoar. Essa tinha sido uma das etapas mais difíceis que eu já havia passado. Eu estava enfim, sofrendo por amor. Colhendo o que plantei. Mas agora eu não sentia nada. Nem os tímpanos, nem as ondas, nem os pássaros. Era tudo muito barulhento naquele silêncio dentro de mim. Eu estive durante horas sentada naquele banco olhando pra lugar algum, querendo coisa nenhuma. Pensando no vazio da minha mente. Eu era um pouco atordoada e tranqüila. Foi assim que eu me senti. Chorosa, doente, ausente de mim. Criança, burra. Flutuando. Foi assim que eu me senti. Forte, fraca, sem sentido. Nunca era tarde demais pra saber amar e nem pra desaprender. Não era dor, não era silêncio e nem falas demais. Não era um coração partido, ou milhões de lagrimas sobre a cama. Era uma etapa. Uma etapa de 7 dias e 7 noites muito doloridas que agora já tinha feito de mim, outra pessoa. O nada se tornou tudo, onde o tudo sempre tinha sido o nada. Foi aí que eu parei de ver e comecei a enxergar. Cresci.

- Levantei, peguei meu casaco e fui então, voltar pra vida.  E voltei. 

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