Era algo involuntário. Sentava-se em um metro, avistava os moinhos se moverem, os barrancos correrem mais de pressa do que a vida e lá estava ela, acesa, intacta e marcante vontade de escrever. Imaginava de olhos abertos, fechados e amparados todo o elenco, as frases, as sensações. Experimentava bem ali, sentada sobre micróbios a ousadia de escrever e arrebentar os nós. Uma imaginação tão fatal, que conseguia quase ver as ondas sobre a cabeça. Pensava em tudo, mas não escrevia. Chegava em casa, sentava no computador, com um blues de fundo e tentava. As travou, e não saiu nada. Não lembrava-se mais da história, das roupas ou das cores. Como se estivesse sumido, se apagado ou nunca existido.
Escrever era como uma fortaleza, um psicólogo, um remédio pra depressão. Poderia começar a hora que quisesse. Escreveria e resolveria deixar tudo ali. Todo o amor e a prova dele. Todo o ódio e aprova dele – em forma de palavras.
Era simples, só letra se juntando com letra e se juntando com imaginação e com pontos finais. As vezes terminavam-se pela metade. Porque nem tudo na vida acaba pra sempre. Era como um ladrão de imagens. Colocava tudo ali, cada segredo, meta, medo, sorriso. Não pensava sobre isso, só fazia, deixava fluir. Escreveu, guardou nas caixas e a vida continuou..
Quando finalmente acabou e voltou ao inicio percebeu, entre 50 anos a sua vida jamais tinha feito sentido, ela já não se lembrava dos amores, nem das dores, nem do afeto. Mas lembrou-se que estava lisonjeada, ela sempre escreveu. E aí você sabe.. jamais iremos competir com eles. O poder de conseguir deixar os dedos rolarem é simplesmente invencível a alguém que nunca, nem se quere tentou.. rabiscar um pouco de toda a sua tristeza. Ou de toda a sua alegria. Porque nem todas as histórias se acabam para sempre..
Anotou em um papel pra grudar na testa: “ Porque entre toda essa confusão sobre escrever que você não entendeu, de uma coisa tenha certeza. As palavras curam, mas também te matam, enforcam, crucificam.. e mentem. “
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