quinta-feira, 8 de março de 2012

Mais do que ver, precisamos enxergar

Estamos aqui. Para cuspir ética, para expor ética, pra criar ética. Quando ninguém mais tem ética, quando ninguém mais sabe fazer algo a mais do que apenas e só falar e falar e chegar a lugar nenhum. Andamos pelas ruas imundas da mentira, pela escuridão da traição. Pela cegueira de nós mesmos. Ao deitar e colocar a sua cabeça sobre o travesseiro, fecha os olhos com os planos do dia seguinte, fecha os olhos com o pensamento lá em alguém que já te fez sorrir demais. Ou sofrer demais. Você lembrou-se se quer de fechar os olhos e pedir? Ou então agradecer a Ele?
Não costumo ver televisão mas desde ontem espero por uma reportagem, a qual antes mesmo de chegar os fim me fez acabar na sacada, observando o céu com os olhos chovendo uma chuva salgada e a cabeça embaçada. Senti um aperto tão grande em meu peito, tão quente, capaz de cobrir todos aqueles que hoje dormiram passando frio. Não eram só arrepios, mas eram choques. Choques de culpa sobre eu mesma. Uma coisa qual eu já senti outras vezes enquanto fotografava os pescadores, enquanto observava os pés descalços no chão puro e quebrado. Olhei para mim mesma e percebi o quão cegos conseguimos ser diante de tanta porcaria, mediocridade, desumanidade que existe nesse mundo, que muitas vezes chego ter anseio por viver.
Tão clichês seria se eu apenas colocasse aqui que reclamamos e nunca estamos satisfeitos com nada. Coloco então um desafio e uma realidade. Todos esses que reclamam, esses que não estão satisfeitos, esses que sonham em um mundo melhor, somos todos nós. Nós mesmo que temos comida todo dia na mesa, mesmo quando a colocamos no lixo por não ser a preferida. Nós mesmo que jogamos o chicle no chão pensando que irá evaporar com o vento. Somos nós a culpa do mundo que vimos hoje. Somos nós os culpados pelas enchentes, pelas mortes, pelas perdas, pela fome e pelas dores. Nós que não levantamos a bunda do sofá pra doar as roupas velhas. Nós que achamos que um papelzinho não vai fazer diferença. Nós que nos calamos diante de tanta brutalidade. Nós que não gritamos por ajuda ao próximo. Nós que colocamos a cabeça no travesseiro pensando em qualquer coisas menos em agradecer. Ou pedir força ao que esta se acabando nas drogas. Que não pedimos foco ao que esta se perdendo nos bares. Que não pedimos luz aos que estão entrando nos becos. Nós que hoje nem fé temos mais. Porque falar sobre fé, escrever sobre fé, ler sobre fé é fácil. Difícil é você fechar os olhos com forças e sentir a fé sobrecarregando tua alma e teu corpo. Nó que não pedimos tranqüilidade aos perturbados. Somos nós os culpados, mesmo quando escrevemos que precisamos de pessoas melhores.
Enxergamos mendigos com medo, com mau cheiro, com perigo. Julgamos sujos, nojentos, ladrões ou viciados. Mas de uma coisa não podemos esquecer: Jamais julgar alguém a não ser que você saiba as batalhas e o que aquela pessoa já passou  pra estar lá. Você não sabe quantos eles perdeu no caminho, o quanto ele tentou, o quanto se perdeu. Você não sabe o que enfrentou, como sobreviveu. Falamos de ética o tempo todo, sem ao menos tratar humanos como seres de verdade. A humanidade é brusca, maldosa. “ Somos todos humanos “ Prefiro ousar um pouco mais e dizer que todos que eu conheço e amo são animais, que todos aqueles que necessitam são animais. Que todos aqueles que estendem a mão, que se movem por alguma coisa são animais. Porque seres humanos para mim são terroristas, agressores, abusadores de poder. Dominados pelo próprio ego. Porque seres humanos não ficam anos esperando o outro no mesmo lugar desde a ultima vez. Porque seres humanos não carregam seus filhos sobre as costas pulando de arvores em arvores. Porque seres humanos não te fazem carinho sem esperar algo em troca. Então julgo a raridade como animais. Como leões, como macacos, como borboletas.
Talvez eu seja mais um ser humano escrevendo um texto sobre utopia. Sobre coisas que eu gostaria de fazer, mas que jamais farei – ou talvez seja isso que você esteja pensando – Sou egoísta com seres humanos, mas jamais serei egoísta com animais.
Vamos colocar a mão na consciência e mais do que na consciência, na massa. No mundo, nas ruas, no próximo. Vamos apertar a mão de um mendigo e o desejar paz, o desejar fé. Vamos começar pedir mais amor ao mundo, vamos pichar mais amor pelas paredes do que um simples ‘ é nóiz  ‘ porque pra ser nóiz de verdade, tem que saber primeiro o que significa ser é nóiz. Vamos ser mais do que a rua, vamos cuidar da rua.
Um tanto quanto otimista é esse texto, espero que vocês, os poucos que não tiveram preguiça e leram até aqui também se tornem otimistas. O seu papel de bala faz toda a diferença sim. A sua luz acessa ao dia, faz toda a diferença sim. O seu 1 real, faz toda a diferença sim.
Então hoje por um mundo melhor, por mais animais e menos seres humanos. Vamos sorrir pra alguém, vamos abraçar um desconhecido, vamos dar um aperto de mão. Vamos dividir uma história, uma estória. Vamos cuidar do que é nosso, preservar o que é nosso. Vamos dar valor a quem temos do lado. Vamos mais do que olhar, enxergar as pessoas. Vamos surpreender, vamos cantar pra alguém. E mais do que nunca, vamos jamais esquecer de toda vez que deitar a cabeça sobre o travesseiro pedir mais fé, mais luz, mais amor, mais foco, mais força aqueles que acham que estão perdidos. Até mesmo pra aqueles que não conhecemos. Vamos pedir mais aconchego a eles nesse inverno que esta chegando. Vamos pedir que o mundo seja menos agressivo e mais caloroso. Vamos pensar em alguém e pedir pra sonhar com essa pessoa. Mas antes disso, vamos ser animais e rezar pelos nossas animais e agradecer pelos nossos animais. Porque isso é belo e o belo é realmente raro nesse mundo, daqueles.. como é mesmo? Seres humanos.

" Mais do que dar valor aos que são tudo, vamos olhar para o lado e dar valor então a quem não é ninguém. "

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