Olhava pela janela quase com o coração na mão, um pouco de medo invadia seu peito. Não tinha mais nada, tão pouco o que restou. Pouco a pouco arrancou tudo, ficou aquele silêncio, o silêncio de sempre. O vento na sacada empoeirada e as pessoas, como sempre são, seguindo, como sempre seguem.
Tinha se tornado o que nunca se tornaria, nem por praga do Diabo. Gritava fazendo eco, que nem por praga do Diabo ela deixaria alguém assim sair da sua vida. Que nem que pregassem ela em uma cruz ela deixaria de dar valor pra alguém assim. – Coitada, gastou saliva a toa, mordeu a própria língua. - Deixou que entrasse e quando estava tomando o café saiu, correu. Não havia mais lugares na mesa, tinha que mandar embora. Esqueceu que tinha oferecido a casa por alguns anos, mas agora ele precisava pegar as malas e sair. Não tinha mais espaço, nem nas mãos, nem na casa, nem no seu coração. Como um príncipe fracassado ele precisou seguir adiante.
Mais uma vez não entendia seu medo, aquele medo de amar, de derrubar as roupas, medo de se perder em lençóis e almas. Tinha medo até do próprio sorriso. Meu Deus como pode alguém sobreviver assim. E não sobreviveu. Acabou-se ali, aos poucos, deitada no chão se afogando em lágrimas. Ela havia deixado a pessoa certa sair da sua vida, sem nem ao menos tentar puxar seu casaco e fazer o escândalo de sempre. Ela tinha mesmo o mandado embora, e enquanto observava ele indo longe de cabeça baixa. Sentiu vontade de dizer ‘Gruda em mim, não me solta seu idiota, eu só queria ver até onde você iria.’ Mas ele foi, mais e bem além do que ela queria. Não gritou, nem correu, nem agarrou. Ficou intacta na varanda observando a sua felicidade dobrar a esquina.
Por longos segundo meus dedos travaram entre as teclas. A musica zuniu no meu ouvido e a chuva caiu forte ali fora.
Ela se jogou no chão e quis correr com as estrelas, começou a lagrimejar aos poucos, sentindo sua pele derretendo como cera. E sabia que ele a concertaria, ele buscaria as crianças na escola. Ele pegaria as roupas na lavanderia, ele repetiria todos os dias o quanto a ama, ele acordaria na madrugada e a roubaria para ver a lua. Ele tocaria sua musica preferida, ele pularia da montanha mesmo que tivesse medo, se isso a fizesse sorrir. Ele a pegaria no colo quando seu pé doesse depois da balada de sexta-feira a noite. Mas já era sexta-feira a noite, entrou pra dentro, enxugou as lágrimas e percebeu que nem sempre o perfeito é perfeito pra nós.
Trocou o disco, depois a roupa, lavou o rosto. Sentou na janela olhar o mar e percebeu que mesmo quando ela queria se desmontar em tristeza, mesmo quando ela queria que ele voltasse ou queria pedir que voltasse. Ela estava lá, no mesmo lugar, se sentindo outra vez quem ela sempre foi. Percebeu que aquilo foi o melhor a se fazer, ele daria o mundo pra ela. Mas de que valeria se ela não daria ao menos um passo por ele? Ninguém nunca entenderia, tinha acabado de jogar fora sua felicidade, ele tinha olhos lindos, ele tocaria sua musica preferida. É o que diziam por aí,
Caminhou mais perto do mar e sentiu seu coração limpo e transbordando de felicidade. Percebeu ali meio que sem querer que ele não era sua felicidade, nem sua vida. Ele era só o homem perfeito que a amava loucamente todos os dias. Estavam todos cegos, ela pensou nele, ele não merecia sofrer.
Olhou o horizonte e ouviu entre a brisa do mar e as batidas do seu coração: “ Melhor que ser amado é amar. “
Muito confuso, masoquista e idiota. Mas é assim que me sinto agora, ele se foi embora, eu o deixei partir. Menti ao dizer que o observava, eu não observei nem quis gritar. Fiquei em silêncio no sofá. Senti uma tristeza enorme por ele se sentir mal. Mas isso vai passar, talvez amanhã a vida me pague com pancadas por deixar o amor passar. Mas aliás, se você não sente.. isso pode-se chamar amor? E se seus olhos não brilham mais? Por favor, por um mundo melhor, não iremos iludir. Foi triste e dramático, mas desculpe-me meu amor. Você foi quente, mas o gelo ainda não derreteu. A vida vai continuar, foi lindo, te adorei. Vou pegar minhas malas, se dó. Fechei a porta e me fui, me fui da sua vida, do seu amor que não mereço, e dessa coisa toda que eu vinha a sentir. Até nunca mais.. Um beijo, da Sr. Confusão
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