Acordei com aquela angustia no peito, olhei o relógio, eram quase 6 da manhã. Ainda chovia, aquela chuva fina, que nunca vem pra molhar. Mas que te deixa molhada, mas que abafa o tempo. Aquela coisa que nunca te faz sair de guarda-chuva, mas que ainda assim cai como o vento. Olhei em volta, me deparei com o espelho e com a minha tristeza um tanto quanto aparente. É assim que você se sente quando quebrou laços. Quando arrancou pedaços de alguém, mesmo que esse algo não saiba. É assim que você acorda, antes de tomar a drástica decisão. Seguir o que? Pensar no que? Razão ou coração? Essa pergunta nunca me pareceu fácil, muito menos me fez sentir melhor.
O que se deve fazer quando alguém aposta todas as suas fichas em você e em dois segundos você escuta a merda do coração. Escuta aquelas batidas temporárias que nem se quer sabe se foram batidas de verdade? E quando você joga tudo pro alto e esquece que tudo que voa, sempre cai? Foi assim que eu me senti naquela noite. Mas ele parecia tão doce. Eu conseguia enxergar nos olhos. Talvez eu tivesse só carente, querendo um colo, um pouco de cafuné e de palavras quentes. Quem sabe eu queria me sentir aquecida por aquele abraço que sempre me sustentou. Se você tivesse visto os olhos dele, nunca me julgaria. Vamos lá, vamos nos jogar do penhasco. Quebrar as paredes, esquecer que amanhã sempre chega. E tocou meu rosto calmamente como toca suas bonecas de porcelanas. Mal sabia.. que mais tarde a porcelana seria eu. Sonhei a noite toda, não jurei. Não falei. Porque tínhamos olhos, e eles falavam tudo o que não precisava ser dito. Eu via a calmaria, e talvez ele também. Mas aprendi a começar a enxergar e não só a ver.
Sempre assim, eu devia reconhecer aquele toque. Me vi em pedaços mais tarde. Marcamos um encontro e ele me apresentou como amiga. Me apresentou como amiga para sua esposa calorosa, com um vestido vermelho tentando provar a cor do amor. Os olhos já não eram os mesmos. Ele morria por dentro, ele ajoelhava por perdão. Mas quebrou. Tudo naquele exato momento, quebrou e escorregou pelo salão com as minhas lágrimas. Não julguei como amor, tão pouco paixão. Mas eu me via completamente perdida. Eu tinha apostado as fichas, eu coloquei as cartas na mesa e vi nossas mãos entrelaçadas. Mas ele não viu. Partiu como sempre fez. E mesmo com lágrimas no rosto. Ele não apostou as fichas. Muito menos me pagou o jantar. Me fez quebrar as regras mais uma vez e mais uma vez. Me fez ficar como uma idiota olhando a cena de um amor verdadeiro. Ele esqueceu que as vezes eu sinto, mesmo quando não é amor. Mesmo quando eu não uso um vestido vermelho. Mas já era tarde. Nos perdemos. Ele me perdeu. Não foi aquela perdida que a gente dá por aí. Aquela de que a gente se tromba pelas ruas um dia. Não. Ele tinha mesmo me perdido, e doía até em mim. Eu nunca mais o olharia do mesmo jeito. Ele me perdeu e se perdeu. E esqueceu que eu sou a fênix. Que eu iria ressurgir das cinzas. O final seria triste, mas o deixe.. ele anda ocupando muitos os restaurantes. Sempre pedia por duas vagas, mas eu não estava lá. Porque eu não usava vermelho.
Tinha que levantar da cama, sentia o cheiro de cigarro entrando em minhas marinas e voltando pela boca. Sentia náuseas de mim mesma. Porque mesmo com o chuvisco depois do vidro da janela, eu deveria ir pra rua e enfrentar. O que fazer quando o que é certo pode machucar alguém? Que escolha você faria. O que é certo deveria ser certo e pronto, e não aquele certo que termina com alguém chorando e não pedindo desculpas e te devolvendo um abraço.
Eu tinha que enfrentar, caminhava entre os becos daquela cidade grande e imunda. E me perdia cada vez mais, cada passo pra frente era como se fosse pra trás. Eu não me reconhecia. Eu não teria feito isso por alguém. Maldito idiota, achou que eu era mesmo de porcelana e conseguiu me quebrar aos poucos. Mas sou a fênix, idiota. Você esqueceu, eu sou a fênix.
Sentei-me sobre um banco qualquer de qualquer que fosse a rua. E pensei, magoar e perder. Ou simplesmente me calar e esquecer? Eu não poderia machuca - lá. Mesmo que ela não tenha sido verdadeira o tempo todo, eu não poderia machuca - lá. Esconder nunca foi a melhor solução. Mas e se fosse com você? Você realmente, do fundo do seu coração - agora de gelo. - Escolheria por saber? Gostaria mesmo que te jogassem isso tudo na cara? Seria um alivio pra mim, eu fiz o que era certo. Eu a perdi, mas do jeito certo. Porque eu estava errada o tempo todo. Só que o mundo ta aí, e as vezes temos mesmo que dar a cara a tapa. Eu posso esquecer – ou fingir – mas vou sobreviver. Eu ainda teria seus abraços. Eu ainda teria sua confiança. Mesmo que por dentro eu ardesse como o fel. Mesmo que por dentro eu chorasse como cachoeiras. Mesmo que toda noite eu martelasse a cabeça. Mas não teria outro jeito, as horas iriam correr e eu ia superar. Talvez eu prefira sofrer, ao te ver aos prantos por minha causa. Não estou sendo falsa, sempre me doei por inteira a ti. Mas homem nunca mereceu conseguir quebrar uma amizade assim. Não só esse idiota. Mas homem nenhum, nunca mereceu conseguir isso e sair se gabando de como todos os idolatram. Mesmo quando foram as crianças mais bobas do mundo. Ainda assim vão dizer “ Ta vendo aquela tragédia ali? Ta vendo aquele laço arrebentado? Fui eu, sim, porque se apaixonam. Porque quere-me todos os dias. “ E minha vontade era de gritar que pessoas assim não merecem ser feliz. E que eu não tava nem um pouco interessada em saber se o pau dele é grande ou se ele tem os olhos bonitos. De que me adiantaria um pau grande, os olhos bonitos, o sorriso torto, se por dentro eu me perdia. Não me perdia naquela coisa bonitinha de se perder. Me perdia no lixão. No cheiro podre. Na naftalina que você federia por dentro. Eu to pouco me fudendo pra você.
Me sentia uma estúpida por ser enganada. Mas pra se levantar, a gente tem que chegar no chão. E quando se chega no chão, a única opção é subir. Pensei na hipótese de que eu não daria a ele esse gostinho de conseguir quebrar o que eu demorei pra construir. Mas também não queria parecer que perdi o jeito sincero de ser.
Era complicado, e isso tudo me enchia de nós na garganta, na cabeça, no coração. Era difícil esconder. Mas eu teria que ser forte. Quem eu queria que sofresse agora? Não quero ser masoquista e dizer que prefiro a mim. Só que eu me importava, mesmo que não acreditasse mais. Eu me importava com a sua dor. Sinceridade te leva longe, mas também pode te fazer perder tudo. Seriam só palavras, palavras de um erro. Só que palavras curam e também ferem, e terminam com a tua vida. Então olha pra frente, seja você mesma e lembre-se: Quem nunca errou, que atire a primeira pedra.
Sinceramente eu ainda não trombei com pedra alguma. Porque se todos os erros são uma pedra, eu quero guardá-las pra fazer meu castelo e lá na frente olhar pra trás e lembrar de que nada é em vão. E que não são todos que conseguem um castelo com seus erros. Não seria por luxo, mas me orgulharia muito saber que eu consegui conviver com os erros e fazer deles o melhor que eu pude.
Não me ache egoísta amiga, eu penso em você. O tempo todo, mesmo em silencio. As vezes os gritos atormentam e dessa vez o silêncio te salvou.
Mesmo que eu ainda sangre por dentro, vou superar. A gente sempre supera.
Até aonde vale a pena ser sincero? Mania de terminar tudo com uma interrogação, mas quem disse que a vida sempre termina com pontos finais? Vamos lá, levante-se do banco e continue como sempre fez, mas agora aprendendo que melhor do que saber olhar nos olhos, é saber enxergar os olhos. Por mais bonitos e verdes, que eles sejam..
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