Sinto como se minha pele caísse pouco a pouco de cada centímetro do meu corpo, como se não houvesse mais carne, nem ossos. Ou talvez restassem só os ossos, se quebrando aos poucos, partindo entre barulhos estranhos e únicos. Meus olhos sangram e se derretem ao mesmo tempo, como uma confusão bruta de quem eu sou, e o que estou fazendo comigo mesma. Não sou mais a mesma e nem sempre fui. Mas me joguei, literalmente – do penhasco. Fechei os olhos e pensei: Deus sabe o que faz. Segui em frente, talvez fundo. Mas me fui, de corpo, de alma, de fio de cabelo e de dentes brancos. Não me sobrou nada a não ser o medo. Pensei que eu teria coragem pra voltar pra cima e tentar respirar outra vez. Pensei que eu teria essa força superior de me fazer querer continuar. Mas todas as vezes que me olha calmamente no fundo dos olhos eu me assusto. E penso em correr pras colinas, pras montanhas. Me perco sempre em você e penso que tudo o que eu tenho de fel, você tem de doce. O toque nas mãos, o jeito como aperta no abraço. O perfume, o beijo e até mesmo o arrepio. Doce do começo ao fim, e eu aqui, nessa amargura que não me sai, não me deixa. Talvez eu quisesse abrir o zíper e me mandar, não dizer adeus, só fechar os olhos, mas desta vez andar em linha reta e não me aprofundar. Sabe, não quero te dizer pra me deixar aqui, você nem sempre tem que me ouvir. Mas eu sinto como se minhas unhas caíssem, como se minha boca perdesse a força pra falar. Eu não posso continuar com essa farsa. Eu não quero ser essa farsa, então me escute agora amor: “ Eu não posso andar de mãos dadas, eu não posso olhar no fundo dos olhos, não consigo tremer ao te ver vindo longe. Não posso mentir pra você, eu não consigo fechar os olhos e sentir sensações passando em todo o meu corpo quando você me beija.. “
Mas aí começa a chover, o vento bate forte em minha vidraça e antes de mandar-te esse bilhete eu sempre repito: “ Não pare de remar. Não vou parar de remar, por mim e por você. Continuo indo nessa lagoa sem fim, mas não agora, agora eu não posso parar de remar.. “
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