Amar não é pecado. Desistir do amor, nos leva a morte.
- Quando você acorda e o dia esta mais cinza do que de costume, e o sol se esconde e nunca volta. Em seguida, pingos caem sobre sua vidraça partida. E o vento sopra forte. Ao olhar pela janela encontra o mesmo jardim de sempre, com algumas folhas de diferença que caíram pela madrugada. As flores estão murchas e o frio ofusca seu espelho. Sem poder se enxergar e ver o quanto ainda é linda o tempo passa. Um frescor de café sobrecarrega a casa. E é só isso que você tem nesse dia nublado. Um café, o jornal á uma semana atrasado. E suas lembranças, as quais sempre voltam mais fortes nos dias como o de hoje. As que você quer e precisa esquecer, e que nunca esquece.
Tudo fica mais pesado, mais confuso e teu pobre coração coitado. Ainda tenta bater mais uma vez enquanto ouve a ultima cação da sua vida. Não é uma falta de amor, é um amor escondido, reprimido. Que arde como veneno em seu peito gelado. Em meio aquele preto e branco uma caneta e um papel. Coloque sempre tudo lá, pra se sentir melhor, se entender, conversar. Mas se sentia ainda mais vazia. Era como se escrevesse mil cartas e não soubesse nenhum endereço. Ele disse que viria logo, quando abrisse os olhos. – Abriu e ele não chegou. – A insaciável sede e espera. O nosso maior erro. Um amor que não existe. Se culpa por acreditar demais, pensar de mais. Mas de quem é a culpa, quando seus olhos brilham outra vez? Não é sua. Precisamos desse entusiasmo. A solidão nos deixa assim, escondida, amuada. A solidão trás doença e dor. Mas a espera machuca ainda mais. A solidão tem um fim, demore o tempo que for. Mas a espera, é algo incontrolável. Depois de dois séculos você ainda fica na janela, tentando observar algo, alguma coisa. Alguém que nunca veio, e nem irá vir.
Depois de tantas cartas, reli uma apenas sem querer. E isso me fez perguntar o que eu sentia. Por quem eu sentia. Quando lia cada palavra posta ali sem significado, meu coração pobre e fraco acelerava. Como se não fosse minhas apenas, como se fossem nossas. Momentos escritos que me davam nostalgia. E depois utopia, porque eram só palavras. E não haviam verdade, havia imaginação. O que me fazia derramar lágrimas frias sobre a face e sobre o papel.
Um amor assim, quase doentio. Mas tão sadio capaz de enfrentar vulcões e se salvar. Tão sadio capaz de salvar uma morte. O problema não era o dia cinza e sem cor, o problema não era a falta de amor. O problema era amar demais, amar alguém que já tinha alguém. Amar alguém que nunca iria voltar, pelo menos não para aquela casinha no meio do nada. Mas sim para a sua própria casa. O preto e branco não tinha culpa sobre nada. Ele já devia ter dois filhos, um bom carro e boas histórias. Enquanto você tinha seu gato, um café repassado e a janela quase caindo aos pedaços.
Hoje seu coração nem dói, nem sente. Só espera. E talvez nesse outono seja a hora de pintar a casa, fazer um café novo, pagar o jornal. Trocar a janela de lugar. Porque a espera, assim como a solidão também te faz ficar doente. E cada ruga que esta em seu rosto, serão marcas de um amor corrompido, ultrapassado.
Pintou a casa, refez a vida. Quando sua campainha tocou.
- Senhor Blues esta? Andei 5 anos a procura dela, mas a casa a qual imaginava não esta mais aqui.
Desceu as escadas e antes mesmo de chegar ao fim do ultimo degrau, fechou os olhos. Seu coração bateu como nunca, sua vida pareceu voltar a tona. E o riso também, e sentia o cheiro de longe. Frente a frente estava ela, e o fim da sua espera. Ele estava ali, ele que nunca poderia ser totalmente seu. Que nunca poderia ser totalmente real, estava ali. De malas e cuia, de corpo e de alma. De sorrisos e de rugas.
Seu amor tivera se perdido todos esses anos, e ela soube que cada dia chuvoso de dezembro naquela janela esperando, tinha valido a pena. Ela nunca desistiu daquele amor. Para uns doentio, para outros verdadeiro demais. O que importa agora, era que ele estava ali. E mesmo que ele nunca tendo sido dela, ela sabia que todas as palavras e olhares que ele a dava, não era falsificados.
E depois de todos aqueles anos e aquelas mudanças, ela chegou mais perto.
- Entre meu amor, o café esta servido, e eu sou inteiramente sua.
( E quem é que vai dizer que não existe razão, nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer.. )
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