segunda-feira, 13 de junho de 2011

Faz de conta.

Faz de conta que estava brava e que nunca mais iria querer vê-lo na frente. Ou faz de conta que jamais quisera ouvir outra vez aquela voz. Como se sua presença não fizesse balancear as pernas ou como se aquela voz não fizesse seu coração disparar. Quando se deu conta já estava dentro. Dentro da cabeça, da alma e de qualquer outra coisa que se via. Em frações de tempos e entre linhas indeterminadas ela dizia estar apaixonada. Seria tão fácil de notar se ela não fosse tão estranhamente confusa. Ou fosse tão misteriosa. A gente costuma brincar de faz de conta. Mas no meio do caminho acreditamos na nossa própria e falsificada identidade de “ eu sinto, eu estou. “ Quando vê esta mesmo, quando se vê já não vive sem. Automaticamente tudo lembra aquilo, aquele, o nós. Como se o passado se misturasse com o presente, esperando algum resto de futuro. A gente finge, e esconde. Tão medrosos que somos, tão fracos pra admitir. E aí se pega sempre assim, chorando pelos cantos. Perdidos em mentiras. Mas em uma festa você não pode dizer que é apenas culpa da lua por arrancar-lhe tantos olhares. Você sabe que o problema não é a lua, ou seu brilho gratificante. O problema é ele, lá do outro lado do mundo, da janela, da vida. Ele para o qual você quis ensinar contar estrelas. Ele para o qual você quis dar uma estrela. É esse o problema de viver e sentir saudade, e fingir que não sente. Damos carne e osso, e fio; para que tenhamos mais tardes lembranças que valerão a pena. E nunca pensamos em o quanto isso vai doer quando acabar. Ou em quantas vezes você irá rever fotos, reler cartas, e-mails. E quem é que se importa com isso. E quem é que pensa no futuro quando se tem um presente maravilhoso e inédito. A gente esquece de tudo, dos olhos, dos ouvidos, da vida. As cartas  chegam quando estamos na rua, assim como o telefone toca só quando não o esperamos. É o ciclo. E não iremos quebrá-lo. Precisamos estar distraídos pra que algo se mova. E continuamos fingindo. Faz de conta que eu não te imagino, e reinvento depois. Ou que eu não te canto. Ou que não penso malicias a teu respeito. Faz de conta que carinho me satisfaz e que teu sorriso não me faz morrer. Mas porque falar mais, repetir mais. Seus olhos, sua boca, seu cheiro, seus dentes, seu toque. E a minha insaciável sede de ti. Porque quando digo “ seu, sua. “ Não digo “minha, meu.” E é ai que eu penso em bobagem, é ai que eu penso em seqüestro, em tortura. Como fogos de artifício, explodimos escondidos. Quando olhares nunca são só olhares. É quando te quero mais ainda. Quando meche seus lábios, seja pra me chamar de Idiota, de canalha ou pra me beijar com pressa. Sempre pensei nunca ser fraca o bastante perto de ti ou sempre fiz de conta que não o desejo quando esta respirando em meu rosto. Culpe a quem quiser, eu não vou dizer que sinto isso sozinha. Você sabe e entende que não é. Depois a gente erra, erra quando tenta dar nome, quando tenta ter algo que já temos, quando tenta um ser do outro, quando já somos. E não dá certo, nunca dá. Tivemos que cair e esfregar a cara no chão pra ver que só iremos ter essa vontade quando for atrás do trem, do trilho, das nossas vidas. Só iremos acreditar nessa magia irônica quando estivermos correndo o perigo de ser pegos. Vamos lá querido, vamos pegar esse bom vinho e aproveitar o segredo que nos resta. As estrelas ainda nos brilham e a lua nunca irá nos deixar. Mesmo que não falássemos nada, eu iria querer teu silêncio durante essa noite inteira, e essa vida, que quase se acaba quando esta muito longe. O livro, aquele que empoeirado quis ler ao pé do meu ouvido enquanto a chuva lá fora se fazia forte e monstruosa. Ele ainda esta lá, no chão. Do jeito que deixamos, na hora em que decidiu me abraçar forte, e me afogar em olhares. Dois minutos de silêncio, foi o que você pediu. E foi o que eu quis. Nada mais e nada além. E depois disso a gente finge que não quer, que não importa, que não faz diferença. E entre essas palavras confusas e ingratas a gente continua assim, fazendo de conta que eu não te desejo, que tu não me desejas e que jamais iremos matar essa louca vontade de terminar com esse faz de conta, faz de conta que nunca quisemos. Faz de conta que nunca existimos. Faz de conta, que tanto faz.. 

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