sexta-feira, 25 de março de 2011

Raios que falavam.

Como uma daquelas laminarias de festas o céu brilhava, nunca o vi tão bravo e tão fascinante, congelei os olhos, por alguns minutos olhei fixo para a multidão de arvores que desapareciam e logo mais retornavam com o clarão. Era como ligar e desligar uma lampâda, mas com a impressão que estivesse em um oceano, com ondas pra lá e para cá. Algo me arrepiava dos pés a cabeça. E algo também me deixava em psicose, milhares de pensamentos soltos saiam para dançar com os poucos pingos que caiam em minha fase. O barulho era amedrontador, mas também me acalmava. Fechei meus olhos e pensei no amor. Talvez eu tivesse ter pensado sobre o medo, dos raios. Da ventania violenta. Mas meu coração acelerou me levando a algum lugar que desconhecia. O amor estava ali. Em algum lugar, era como se eu pudesse senti-lo e entende-lo agora. Era ele só e apenas o que nos unia. Fosse em qualquer um dos 4 cantos do mundo. O amor nunca mudava. Sejamos pobres, ricos, negros, brancos, Italianos, Americanos ou Brasileiros. O amor quando chega não à como evitar e muito menos compreender. Para os muçulmanos o amor nasce da convivência. Para nós, talvez ele morra na convivência. Mas de qualquer forma foi amor. " Um amor por vida. " Talvez eu não tenha muita fé nessas poucas palavras. Porque sinceramente, se um dia perco os movimentos, sinto-me sem ar, é quando estou amando. Mas amor não mata. Amor nos faz renascer, rejuvenescer. Não confundam amor, com hipocrisia. Os barulhos já tomavam conta do meu corpo, levemente chegando até meu cérebro. Eu tinha medo, confessei por alguns segundos. Mas continuei sentada naquela grama sem fim. Como se fosse um deserto. Agora os pingos eram mais fortes, mais próximos. Mas ainda não abri meus olhos e mesmo não os abrindo podia ver as trovoadas iluminando e apagando-se tão rápido quanto eu tentava entender o que estava acontecendo. Lembrei de uma frase que minha avó soltou em um de seus versos amadores. " O amor não é o sexo, o beijo na boca ou as mãos entrelaçadas. O amor, pode ser um sorriso, um olhar ou um toque. Quando se ama, você se perde, e ao mesmo tempo se encontra com si mesmo. " Não era ilusão ou poesia clichê. O amor era mesmo assim, amedrontador e corajoso. Bondoso e rígido. O amor curava, e não adoecia, só renascia. Eu poderia pensar em tantas coisas. Poderia imaginar como Bryan adoraria estar ali, desafiado a natureza naquela noite de temores. Eu não sabia ao certo o que estava acontecendo. Mas vi mil cenas de mim mesma através de meus olhos. Me vi chorando em um quarto abraçada a um pequeno urso azul-marinho. E depois me vi rasgando papéis, provavelmente alguma carta. - Teriam sido os fins dos meus amores - eu sabia disso, porque doía como se fosse agora, alí.
Levantei-me de vagar, sem abrir os olhos, com o braços estendidos ao lado de meu corpo, os abri, o máximo que eu pude. Senti a chuva em meus poros e minha roupa inxarcada. Naquela noite, de confusoes e interversoes de erros. Eu consegui ver o que tudo significava. Eu já havia tido muitos amores. E no dia que decidi jamais amar alguém novamente, o medo, - em vez de me fazer fugir - me levou mais proximo do que eu ates havia chegado. Me mostrou que não se pode livrar-se do amor. Porque amor, não são só os caras que conhecemos e nos apaixonamos no fim da tarde, ou na madrugada fria de um inverno violento. O amor esta em tudo, no toque, nas lembranças, na saudade, no sorriso e na vida. Bryan adorava observar os raios. E naquela noite, um tanto quanto sombria, eu pude perceber que não poderia jamais fugir do amor. Porque amor é tudo, até a dor quando arde forte.
Eu estava ali, de braços abertos me expondo livremente aquele ventaval, e me arrepiava de medo, mesmo sem transparecer. Não sei o que me levaria até ali, - aliás eu não precisava de mais um resfriado - mas com certeza eu sabia o que dali me tiraria.
Era um toque doce, quente e macio. Abri meus olhos pensando estar sonhando, até ouvir aquela voz meiga que me dominava os sentidos..

- Alice, venha.
Me envolveu em seus braços, e eu nem notava o quanto eu tremia de frio - ou medo, ou amor -
- Vou cuidar de você, acredite em mim, um dia eu disse que estaria aqui, mesmo quando você não pudesse me ver.
Sem excitar eu falei:
- E você não mentiu.

No momento em que vi seu sorriso, percebi que algo tinha me levado até ali quando eu tentava fugir, e algo tinha me levado até ali pra eu perceber o quanto eu amava aquele garoto - estranho - que adorava observar raios. Raios tais - que me faziam tremer - fosse, do que fosse. De ódio, medo ou amor.

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